7 de março de 2015

Quem sou eu, mulher?

Num contexto latino, patriarcal e sexista, como posso responder à essa questão? Talvez fazendo um esforço para olhar não para o que as pessoas ao meu redor me dizem, mas para o que Deus e suas Escrituras afirmam. Vejamos, rapidamente, três importantes visões da mulher nas Escrituras.

Primeiro, a mulher é digna. Em Gênesis vemos que homem e mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus. Ambos, então, são dotados de capacidade para pensar, discernir e criar. Ambos temos valor e somos importantes para Deus. O relato da criação nos fala que, depois de Deus ter criado homem e mulher, Ele olhou para o que havia feito e viu que era muito bom (Gn 1.31). Como mulher, devo basear nisso a minha autoestima: fui feita por Deus à sua imagem e semelhança. Sou aceita e amada por Ele. Não devo buscar me igualar a modelos masculinos para encontrar meu espaço e ser valorizada. Sou feminina, criada assim, amada assim.

Segundo, a mulher é parceira. E aqui buscamos o que Deus nos fala quanto à sua relação com o homem. E buscamos o paradigma maior, que é o da criação. É de maneira poética que Adão se expressa ao ver Eva pela primeira vez: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gn 2.23). Adão fala de Eva como sua igual. Deus criou macho e fêmea. Criou seres diferentes. Ainda que ambos tenham igual valor, é importante enfatizar a beleza da diferença entre eles. Igualdade em valor e diferença na identidade; às vezes um paradoxo que nos confunde.

Como esses iguais e diferentes se relacionam? A expressão que Deus usa para designar Eva em relação ao homem é “auxiliadora idônea” (Gn 2.18). Muitas vezes essa expressão é mal interpretada e utilizada para legitimar uma posição inferior da mulher em relação ao homem. Alguns dos argumentos usados são de que se a mulher foi criada por causa do homem e para auxiliá-lo, ela fica automaticamente subordinada a ele. Contudo, uma análise mais cuidadosa do uso do termo “ajudadora” no Velho Testamento mostra que ele não indica uma pessoa em papel secundário ou subordinado a alguém superior.

O termo “auxiliadora”, em 15 das 19 vezes em que é mencionado no Velho Testamento, é usado em relação ao Deus que vai em socorro de seu povo necessitado. Poderia, então, haver uma insinuação de que essa palavra sugira uma superioridade ao reverso: a mulher superior ao homem. Ainda bem que esse não é o caso, porque a expressão seguinte, “que lhe seja idônea”, remove essa possibilidade. Ajudadora digna é aquela concebida como sua parceira, companheira e associada. Não poderia ser diferente, já que ela é “osso dos meus ossos e carne da minha carne”.

Com a queda (Gn 3), rompe-se a relação harmoniosa entre homem e mulher. Inicia-se uma guerra, em que ambos competem entre si, em que um quer exercer poder sobre o outro, quer dominá-lo. Sofremos até hoje as consequências da queda. Mas essa não é a palavra final nem o parâmetro que devemos seguir. Em Jesus, aquele que olha tanto para o ideal da criação como para a redenção final, já não há “judeu nem grego; escravo nem liberto; nem homem nem mulher” (Gl 3.28).

Finalmente, a mulher é discípula. Na relação de Jesus com as mulheres, vemos o quanto Ele as considerava importantes em seu ministério. Temos o exemplo de Maria de Betânia, assentada aos pés de Jesus, como um discípulo em relação ao seu mestre (Lc 10.38-42), atitude pouco comum para mulheres naquele tempo. Temos também Marta, sua irmã, cuja confissão teológica (Jo 11.27) equipara-se à confissão de Pedro (Mt 16.13-17). Entre tantos outros exemplos, temos ainda Priscila e Áquila, mulher e marido, trabalhando juntos na obra do Senhor, parceiros no ministério de ensino.

O que Deus e sua Palavra dizem para mim, uma mulher? Com alegria, e apenas para começar, ouço que sou digna, parceira e discípula. Com isso claro, sigo na vida, nas relações e no caminho, aguardando novas aventuras e desafios, guiada por Deus.
Revista Ultimato

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