25 de janeiro de 2015

Bebidas alcoólicas - De bar em bar...

A angústia de ver um alcoólatra se destruindo e a esperança de uma restauração

Eu podia sentir a profunda angústia no coração daquela senhora que me procurava.

Ela buscava orientação para o problema do seu marido, que bebia há anos. Cansada com o alcoolismo em seu lar, olhou-me longamente e perguntou: pastor há esperança?

Diante daquela pergunta, lembrei-me das expectativas do passado. Eu saia de casa para esperar meu pai á saída da fabrica, para tentar evitar que bebesse. Quando ele não aparecia, eu já sabia que tinha saído mais cedo, e estaria em algum bar. Então, era andar de bar em bar, a sua procura. Eram momentos difíceis para um garoto de dez anos.

O que eu experimentava era e é comum a toda família de alcoólatras: angustia por não saber o que fazer. As famílias não conseguem perceber que estão tentando controlar o incontrolável.

O alcoolismo é uma doença tão especifica que todas as tentativas no sentido de resolvê-la, resultam em mais bebedeira e confusão. O alcoólatra sente profundo culpa vergonha e rejeição, resultantes de seu comportamento bizarro e agressivo.

Confusa, a família procura resolver seu drama de todas as formas: aceita as acusações injustas do alcoólatra que, em sua tentativa de reduzir a própria culpa e vergonha, diz que os culpados são a esposa e os filhos; procura negociar com ele, que promete não mais beber e desespera quando essas promessas não são cumpridas.

A esposa chora, briga com os filhos, perde o interesse pelos cuidados pessoais e da casa, entra em depressão. Sua vida vira um caos.

Os filhos julgam-se responsáveis pela situação e pensam que, se não tivessem nascido, as coisas poderiam ter sido diferentes. Acreditam que, se fosse melhores alunos, não levariam o pai a beber. A família não sabe mais que atitudes tomar, pois tudo que faz, simplesmente, leva o quadro a piorar. E todos, alcoólatra e familiares carregam uma grande culpa, da qual não conseguem se libertar. Assim, os familiares se isolam, procurando se proteger de uma situação incontrolável, muitas vezes, escondendo seu drama familiar.

Por isso, entendo a ansiedade por trás de quem pergunta se há esperança para um alcoólatra e dou graças a Deus por poder responder a esta pergunta positivamente. Atrás de tal resposta está minha experiência pessoal. Minha mãe procurou seu pastor que, apoiando-a em oração, recomendou-lhe que orássemos como família, intercedendo por meu pai, assim, passamos a orar ajoelhados, alguns minutos antes das seis da tarde, quando ele saia da fabrica. Algum tempo depois, meu pai iniciou um tratamento médico, através do qual o Senhor respondeu nossas orações. Foi reintegrado na igreja, tornando-se o principal apoio daquele mesmo pastor que nos ajudou. Nossa vida familiar se transformou e posso afirmar que meu aprendizado efetivo de oração foi ali, lutando com o Senhor para resgatar meu pai do alcoolismo.

Mais tarde, já como pastor iniciei um novo ministério desenvolvendo uma igreja ao sul de São Paulo. Em contato com as famílias do bairro, encontramos muitos casos dramáticos de alcoolismo.

Apesar da experiência pessoal e do treinamento teológico, sabia pouco sobre o assunto. Só conhecia o recurso da oração. Portanto, pedi ao Senhor que me orientasse em como ajudar aquelas famílias presas ao drama do alcoolismo. E o Senhor, mais uma vez, respondeu de forma indiscutível. Certo dia ouvi pelo radio do carro, sobre um curso promovido por um centro de treinamento de alcoolismo, que ensinaria como lidar com o problema e onde enviar o alcoólatra para tratamento. Acabei sendo convidado por essa clinica para trabalhar como conselheiro espiritual junto a seus pacientes. Um novo horizonte se abriu a minha frente, cheio de novas expectativas.

Ali houve o encontro da oração com o tratamento médico, as duas maneiras efetivas para se lidar com o alcoolismo. Descobri que o alcoolismo é uma doença hereditária progressiva que se inicia no primeiro gole, tornando dependentes do álcool dez por cento das pessoas. Ele afeta a vontade do alcoólatra tirando-lhe a liberdade de recusar a bebida que o está destruindo. Não é um problema moral, ou seja, o alcoólatra bebe, não por ser um mau caráter ou por influência de más companhias; ele sente profunda vergonha e os únicos que não o acusam são seus companheiros de bebedeira. O único meio por ele conhecido, para escapar dos problemas e o próprio álcool. Ele foge da embriaguez, embriagando-se novamente.

Nosso ministério tem sido tanto o de colaborar na recuperação do alcoólatra, quanto o de ensinar as famílias a aplicarem um método específico em suas vidas. A experiência tem demonstrado claramente que há esperança e sou uma prova viva disso.

Há casos e casos. Há derrotas, mas também há vitórias. Muitos têm encontrado a sobriedade ansiosamente buscada. Por tudo isso damos muitas glórias a Deus.
Fonte. Carlos Barcelos Dias

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