5 de fevereiro de 2015

Estudo Bíblico - 1º Carta aos Corintios - parte 1


Estudos Especiais
1ª Carta aos Corintios - parte 2
A CARNALIDADE EM CORINTO É O CERNE DE SEU DECLINIO ESPIRITUAL

Texto base: I Cor. 3:1-4)

Objetivos

Esta é uma série de estudos que pretendo compartilhar com os irmãos, começando pelas cartas aos coríntios, cujo teor se assemelha a muitos problemas ainda hoje enfrentados dentro das igrejas, e que por isso mesmo, nos possibilita um grande aprendizado. Aprender com os erros dos outros é sinal de sabedoria, porque nos permite refletir sobre o que deve ser evitado em nossa prática cristã. Nesse primeiro momento, estaremos focando, principalmente o problema da divisão dentro da igreja, a imaturidade espiritual de seus membros e a presença ainda muito forte da carnalidade.

Introdução

Nessa primeira etapa de estudo estaremos contextualizando em primeiro lugar, a cidade de Corinto em seus aspectos geográfico, cultural e moral, situando as condições de implantação da igreja fundada por Paulo e o surgimento de problemas que caracterizavam as condições espirituais daquele povo e as medidas que se fizeram necessárias para coibir essa problemática. Os textos serão analisados parte a parte a fim de possibilitar uma reflexão sobre posturas inadequadas que não devem permear a prática cristã. Que possamos aprender com os erros e acertos do passado para que a obra do Senhor seja edificada.

Cidade de Corinto

Corinto era uma cidade grega muito próspera, considerada uma grande metrópole por muitas de suas características. Localizava-se próximo a Atenas e era uma cidade portuária de grande fluxo comercial, onde transitava por lá, diariamente, pessoas de várias partes do mundo. A cultura e a filosofia era o seu ponto forte. O povo reunia-se em lugares públicos para discutir filosofia. Por considerar a sua posição social, cultural e econômica, o povo tornou-se muito arrogante.

Idolatria em Corinto

A idolatria era muito forte em Corinto. O povo cultuava muitos deuses, dentre eles, Afrodite, deusa do amor, Eros e Apolo, deus da luz, também considerado símbolo da beleza e da perfeição. Por causa dessas crenças, havia uma inclinação muito forte aos apelos carnais. Havia, na cidade, templos consagrados a Afrodite, onde mulheres eram prostituídas pelas sacerdotisas e, durante os cultos de adoração a essa deusa, muitos homens eram atraídos aos templos que eram verdadeiros antros de orgias. A cidade de Corinto tornou-se um atrativo turístico para aqueles que buscavam esse tipo de prazer. Também, havia a prática homossexual, por conta do culto a Apolo. Esse declínio moral repercutia de forma negativa sobre a cidade e sua fama espalhava-se rapidamente para outros lugares.

Razões de Paulo fundar os alicerces do cristianismo em Corinto

Por todas as razões expostas, Corinto era uma cidade comprometida espiritualmente. Esse era certamente o ponto chave que levou Paulo, dentre outras motivações, a fundar uma Igreja em Corinto. Outra questão também motivadora, era o fato de que Corinto era uma cidade cosmopolita e portuária onde circulava pessoas de todas as partes do mundo e a implantação do evangelho nesse lugar era uma excelente estratégia de disseminação do cristianismo.

Primeira Comunidade Cristã em Corinto

Juntamente com Áquila e Prisca (16:19 e At. 18:1) e uma equipe que o acompanhava em suas missões (At. 18:5), Paulo, fundou a Igreja em Corinto, durante o período de seu ministério de dezoito meses no local, depois de sua segunda viagem (At. 18:1-17). A Igreja era composta de alguns judeus, e grande maioria de gentios, resgatados do paganismo, da prostituição e do homossexualismo. Após a partida de Paulo, seguindo o roteiro missionário, Corinto começou a manifestar sérios problemas os quais requeriam uma intervenção doutrinária imediata. Paulo tão logo ficou sabendo dessa situação, considerando sua gravidade, agiu rapidamente e com muita energia, escrevendo as epístolas, cujo teor, será abordado nesse estudo.

Primeira carta aos coríntios

Essa carta foi escrita no período do seu ministério em Éfeso (At. 20:31) que durou três anos, na sua terceira viagem missionária (At. 18:23 – 21:16). Paulo fica sabendo dos problemas em Corínto , através de uma carta levada até ele pelos da família de Cloé (1Cor.1:11 – 7:1). E também, por meio de uma delegação da congregação em Corínto (1Cor.16:17) que relatava os pormenores de todas as questões, com um apelo urgente para que Paulo interviesse, dando instruções a respeito. Com base nesses relatos é que Paulo responde “me foi comunicado [...] que há contendas entre vós” (1Cor. 1:11).

Exortação à Igreja

Paulo, na apresentação do seu discurso, primeiramente evidencia os aspectos positivos da comunidade e a manifesta presença do Espírito Santo, derramada na Igreja por meio de dons espirituais (1cor.1-7). Em seguida exorta-os quanto às questões que chegaram até ele, conclamando-os para que haja mais unidade entre si, por motivos óbvios.

Problemas de divisão na Igreja de Corinto

Essa primeira carta trata de muitos problemas, todos essencialmente carnais (1cor 3:1-3), que estavam causando divisão (1:10-13–11:17-22) dentro da Igreja de Corinto e comprometendo, não somente a doutrina cristã, como também, o andamento da obra do Senhor. Havia nessa comunidade uma manifesta facção (grupos), cujos integrantes se posicionavam contrariamente cada um querendo prevalecer sobre o outro, tendo como argumento o fato de serem partidários, alguns de Paulo, outros de Apolo (At.18:24), outros de Cefas (Pedro), e por último, alguns se apoiavam na figura de Cristo (1Cor.1:10-4:21), formando, verdadeiras “panelinhas dentro da Igreja, demonstrando com tais posturas, imaturidade espiritual.

As Facções - Disputa pelo poder

a) Grupo de Paulo

De forma geral, havia divisão no tocante a liderança. Conforme já foi mencionado, devido aos diferentes posicionamentos, foi se formando, dentro da Igreja, verdadeiras facções (1Cor.1:12). O grupo que se dizia de Paulo representava as pessoas mais antigas, ou seja, os fundadores, os que se julgavam, como que “proprietários” da Igreja, os que ditavam as regras e que se opunham a qualquer outro posicionamento e, tornando-se, por conta disso, arrogantes e prepotentes.

b) Grupo de Apolo

O grupo que se dizia de Apolo (At.18:24-28), representava uma postura comum entre o povo de Corinto que era a dos que faziam apologia ao discurso intelectualista filosófico. Apolo era judeu de Alexandria, homem versado nas Escrituras e um pregador eloqüente. Representava o grupo dos intelectuais, que defendiam a idéia da prevalência de um saber rebuscado, ou erudito, na condução de uma pregação, porque consideravam apenas o conhecimento humano. Por serem excessivamente intelectuais, acreditavam ser melhores do que os demais, tornando-se por conta disso, soberbos. Não obstante à manifesta preferência desse grupo, e os atributos que lhe eram conferidos, Apolo não demonstrou agrado com tais condutas e preferiu não mais retornar a Corinto (1Cor.16:12). Paulo, no tocante ao saber humano, dizia que não deveriam se gloriar em si mesmos, porque quando Deus quer levantar um pequenino e torná-lo grande, assim o faz, justamente para confundir os doutos (1Cor.1:18-31-3:18-19), deixando-os perplexos, porque para eles isso é loucura. Mas é assim que Deus age, para que a honra e a glória sejam dadas a Ele, unicamente, e seu nome seja exaltado.

c) Grupo de Cefas (Pedro)


Esse grupo era constituído por judeus (At.18:8), um povo excessivamente tradicional que se apoiavam em Pedro (1Cor.1:12), que representava uma forte liderança em Jerusalém (Gl.2:7). Ele se distinguia de Paulo pela sua postura mais conservadora em relação a alguns aspectos no tocante a aplicação de cerimoniais prescritas no A.T. (Gl.2:11-17). Embora nunca tenha ido à Corinto, tinha a simpatia do povo judeu de lá, que manifestadamente apresentavam dificuldades no convívio com uma comunidade em que a sua maioria vinha de crenças pagãs.

d) Grupo de Cristo

Este grupo dizia seguir a Cristo tão somente, e embora pareça a principio uma posição correta, foi criticada por Paulo por sua tendência facciosa. Não seguiam orientações de nenhum apóstolo e se denominavam o grupo dos “espirituais” (1Cor.3:1) dentro da Igreja, dando a entender um grupo seleto. Para eles o conceito de espirituais estava relacionado com os dons do Espírito como falar em línguas e a profecia (1Cor. 4:3-4:18-21-14:37). Consideravam-se especiais porque criam que mantinham uma relação estreita com Deus e que por esta razão, não necessitavam de direcionamento humano. Negavam a autoridade dos apóstolos e, principalmente a liderança de Paulo. Não aceitavam que suas mensagens fossem questionadas porque as tinham como verdades absolutas. A presunção era tamanha entre eles que julgavam as interferências de Paulo desnecessárias na Igreja.

Paulo exorta a igreja de Corinto

Paulo deixou bem claro que a nenhum e a nem outro deveriam seguir (1Cor.1:4), mas unicamente a Cristo (1Cor.1:5–4:6)). Ressaltou ainda, que na Igreja, há diferentes dons para que a obra do Senhor seja engrandecida. Todos somos membros de um mesmo corpo, cada um, embora exercendo funções diferentes, são igualmente necessários e importantes. Não havendo, portanto, maior ou menor, mas diferentes formas de cooperação (1Cor. 3:9).

Declínio moral do povo

Além da questão da divisão, havia outra, que dizia respeito ao declínio moral que estava se alastrando dentro da igreja devido a não superação das más inclinações, provenientes do pecado que corrompia aquela cidade e que permanecia arraigado nas entranhas dos novos convertidos que não estavam ainda totalmente libertos e por conta disso levavam uma vida que contrariava os princípios cristãos. Muitos até, haviam voltado a praticar atos próprios de sua vida antiga (1cor. 5:1-3 – 6:12-20). Esses são os sinais evidentes de que a Igreja de Corinto necessitava de conversão, de direcionamento espiritual.

Erros doutrinários e suas consequências

Havia dentre os membros da Igreja de Corinto uma dualidade, pois consideravam que o corpo estava desvinculado do espírito e que, portanto, o que o corpo fizesse não traria prejuízo para a alma. Esse entendimento doutrinário equivocado os levou a praticar muitos tipos de imoralidade, incluindo-se o envolvimento com prostitutas. Paulo os exorta para o fato de que o povo de Deus deve viver em santidade, argumentando que o nosso corpo é templo de Deus (1Cor. 3:16-17) e que devemos viver em santidade. O mundo pode até nos oferecer seus manjares, mas cabe ao cristão ter discernimento para saber fazer as escolhas certas. Paulo diz no seu discurso, “todas as coisas me são lícitas, mas nem tudo me convém” (1Cor.6:12), alegando que um dia teremos que prestar contas de todas as nossas ações, sejam boas ou más, certas ou erradas (2Cor.5:10).

Conclusão

Os problemas apresentados nesse estudo não esgota a problemática de Corinto, mas aponta a carnalidade como o cerne do todas as questões pontuadas e geradora de comportamentos que comprometem a espiritualidade individual e refletem na Igreja, assim como foi no passado, é também, no presente. O orgulho, a disputa pelo poder, a presunção, o declínio moral dentre outras situações descritas no texto são apenas indícios dessa condição humana precária. Todos os problemas apresentados refletem um nível elevado de imaturidade espiritual da Igreja. Problemas como estes não devem ser ignorados, mas sim tratados com muita responsabilidade e com o mesmo comprometimento com que Paulo assim o demonstrou, tomando as atitudes corretas na medida certa. Que possamos aprender com os erros de nossos irmãos do passado considerando que somos tão falíveis quanto qualquer um e que o mal tem que ser cortado pela raiz. Cada um deverá prestar conta de si mesmo e, portanto, que cada um medite e tire proveito desse aprendizado da forma que julgar melhor às suas necessidades de aperfeiçoamento enquanto cristão.


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