2 de agosto de 2015

Família sob Ataque

Família sob Ataque
“...Davi se fortaleceu no Senhor seu Deus” (1 Sm 30.6c).

Introdução
Davi era um homem segundo o coração de Deus (1 Sm 13.14). Sua vida foi marcada pela sua dependência do Senhor (Sl.17.5; 18.21; 25.4,5; 143.8,10), pela sua humildade em reconhecer suas limitações (Sl.131;40.12,17) e pela sua coragem, no enfrentamento de animais selvagens para defender o seu rebanho e a sua luta com um gigante filisteu (1 Sm 17.32, 34,35) e em muitas outras situações. Deus o escolheu para ser rei em Israel, mas esse fato aliado à popularidade de Davi, despertaram em Saul o então rei, uma profunda inveja que o motivou a persegui-lo de forma implacável a fim de mata-lo. Davi passou por um período muito difícil em sua vida, tendo que se esconder muitas das vezes, em cavernas. Já esgotado, no limite de suas forças, buscou refúgio em terras filisteias, lugar onde deduzia estar livre das perseguições. Ali fez um acordo com o rei Áquis e este lhe concedeu uma cidade Ziclague, para se estabelecer com seu exército de seiscentos homens. Davi estava agora em uma zona de conforto. Parecia que tudo ia bem. Mas uma grande tragédia se abateu sobre sua vida e mudou o rumo de sua história.

Ziclague, Uma Cidade Destruída Pelos Inimigos

Davi e seus soldados estavam há três dias fora de casa e ao retornar com seus homens, se depararam com a cidade totalmente destruída pelo fogo ateado pelos amalequitas (1 Sm 30.1). Embora não tivessem matado ninguém, levaram cativos todos os que ali se encontravam, mulheres e crianças (vv 2,3). Vendo a situação, Davi e os homens que estavam com ele, entraram em desespero e choraram, até não haver mais forças para chorar (v.4). O desespero de Davi aumentou porque o povo angustiado pela situação, o culparam pelos acontecimentos e arvoraram-se contra ele, ameaçando apedrejá-lo. Porém Davi buscou forças no Senhor (v.6) e reagiu, levantou-se e foi consultar o sacerdote Abiatar (v 7) e vestindo-se de éfode, falou ao Senhor, pedindo-lhe a direção no que deveria fazer, qual decisão deveria tomar mediante os fatos. A resposta do Senhor foi imediata, disse-lhe para ir atrás dos amalequitas pois tudo lhe seria restituído (v.8).

Lições Extraídas do Texto

1- O Ataque do Inimigo

Os amalequitas atacaram a cidade enquanto Davi e seus homens estavam fora. Não houve resistência. A destruição foi total. O alvo do inimigo é a destruição das nossas famílias. Davi era um homem de muitas qualidades, porém, não vigiou em relação a sua própria família, seu bem mais precioso, deixando-a vulnerável. O inimigo atacou a vida de Davi em cinco áreas: família, finanças, saúde mental (desânimo e depressão), relacionamentos (contendas), separação (mulheres e filhos). Da mesma forma, as famílias de hoje estão sob ataque constante. O inimigo espreita os lares, observa as fragilidades, e se aproveita das oportunidades para destruir as famílias na tentativa de interromper o projeto de Deus.

2- O Campo de Atuação do Inimigo é Limitado

Ele só pode agir até onde Deus permite. O texto diz que as famílias foram levadas cativas (v 2), porém nada lhes fizeram de mal. Isso porque não houve permissão de Deus. No livro de Jó, Deus deixa bem claro para Satanás que ele poderia tocar em algumas áreas da vida de seu servo, de outras, não, portanto, a atuação do inimigo na vida do crente é limitada. Deus é soberano e nada escapa ao seu controle. Se Ele permite algumas provações, é porque através dela, Deus está forjando um novo caráter em nossas vidas, uma nova mentalidade, apontando-nos um novo caminho e alinhando os nossos propósitos à sua vontade.

3- A Tragédia de Ziclague Escondia um Propósito

Deus permitiu a destruição de Ziclague porque tinha um propósito nisso. Inicialmente, Ziclague tornou-se uma zona de conforto para Davi. Embora estivesse em território inimigo, ele vivia bem. Era respeitado e tinha uma relativa paz. Mas o propósito de Deus era que Davi retornasse para Jerusalém. E por causa do comodismo de Davi, Deus permitiu o ataque do inimigo para despertá-lo e fazê-lo lembrar das promessas de Deus em sua vida. Se Davi permanecesse em Ziclague, ele não seria rei de Israel.

Da mesma forma, muitas vezes nós também, estamos em uma zona de conforto. Esquecemos que temos um chamado de Deus em nossas vidas, deixamos de lado o Reino de Deus e nos ocupamos com as situações imediatas da vida e o tempo vai passando. Um belo dia, sem que ninguém espera, a nossa Ziclague é destruída, o nosso projeto de vida se dissipa diante de nossos olhos. Quando o desespero assola o nosso coração e tudo parece perdido, uma luz se acende e lembramo-nos de que o nosso socorro está no Senhor.

Havia um outro problema que precisava ser resolvido. Embora Davi fosse um homem bem sucedido em tudo o que fazia, porque Deus era com ele, a sua família estava sendo negligenciada. Deixara a família a mercê de uma situação por conta de outros problemas que não competia a ele resolver. Deus o fez rever seus valores e voltar a dar prioridade para o que é realmente relevante na vida de um homem. O nosso maior tesouro é a nossa família. Quantas vezes priorizamos outras coisas e deixamos a nossa família de lado? Quantas vezes, mesmo estando debaixo do mesmo teto há um abismo que nos separa de quem amamos, o abismo do individualismo, da falta de comunicação? Isso tudo é munição para o inimigo agir.

4- “...Davi e seus homens choraram até não terem mais força pra chorar” ( v.4)

A dor era tamanha que tanto Davi quanto seus homens choraram até não haver mais lágrimas. Muitas vezes, nos tornamos insensíveis diante de tantas situações de sofrimento que acontecem ao nosso redor, que um certo conformismo se instala em nossos corações. Parece que nada mais nos comove. Porém, quando a dor se abate sobre nossa casa, sobre nossa família, não tem como permanecer indiferente. A dor é tamanha que parece que abre um buraco no coração, o chão se fende e ficamos totalmente sem reação e a única coisa que conseguimos fazer é chorar. O choro é o grito da nossa alma. Mas a Palavra do Senhor ensina que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5b).

5- “...O Ânimo de todo o povo estava em amargura” (v 6)

O maior alvo do inimigo é o nosso coração. Ele sabe que um coração desanimado não oferece muita resistência. Por isso ele quer disseminar o desânimo, a angústia, o desespero, para enfraquecer as nossas forças. Ao incendiar a cidade de Ziclague, o intuito do inimigo não era a destruição da cidade em si, mas era tirar a segurança, a estabilidade, entristecer o coração de Davi e seus homens, semear o desespero, tirar-lhes a esperança.

6- “...Davi se esforçou no Senhor, seu Deus” ( v.6c)

Davi acreditando ser a melhor solução para seu problema, aliou-se com uma nação inimiga, sem considerar o fato de que essa aliança poderia envolve-lo em situações que não estavam de conformidade com os planos de Deus. E foi isso, exatamente que aconteceu. Por conta dessa aliança, Davi estava prestes a se juntar ao exército filisteu para lutar contra o seu próprio povo. Mas Deus não lhe permitiu e fê-lo tomar o caminho de volta para sua casa.

As consequências de seus erros recaíram sobre sua casa, sobre sua família. Davi reconheceu suas falhas. Chorou amargamente, até não ter mais o que chorar. O estado de desânimo se abateu sobre ele e sobre todos. Não conseguia ver solução para aquela situação. Pensou talvez, que estivesse tudo perdido. Porém, lembrou-se que o seu Deus era o Deus do impossível e fortaleceu-se imediatamente, sabia que somente Ele poderia ajuda-lo naquele momento e uma nova esperança se acendeu em seu coração. Levantou-se e foi até o sacerdote Abiatar que lhe entregou o éfode para que pudesse se colocar diante do Senhor.

7- “...Então consultou Davi ao Senhor” (v 8a)

Davi vai buscar em Deus a resposta para os seus problemas. Desta vez ele toma a atitude certa. Vai levar a sua causa aos pés do Senhor. Humildemente ele pergunta ao Senhor o que deveria fazer diante daquela situação, se teria alguma chance de recuperar sua família e tudo o que fora levado. A resposta foi imediata. Disse o Senhor: “Persegue-a, porque, decerto a alcançaras e tudo libertarás” (v 8b). As provações não tem o objetivo de nos deixar prostrados. O Senhor permite as tribulações somente quando há um propósito específico para isso.

Mas Ele não quer nos ver prostrados e derrotados. Ele espera de nós uma atitude de coragem para vencermos as adversidades. Ele está disposto a nos ajudar, mas não dispensa o nosso esforço. As estratégias é Ele quem dá. Mas precisamos enfrentar a situação com fé e coragem. “O inimigo veio para matar, roubar e destruir (Jo 10.10), mas Jesus veio para destruir as suas obras ( 1 Jo 3.8). Por isso em Cristo Jesus, somos mais do que vencedores (Rm 8.37).

8- Em Tempos de Guerra, Não dá Para Descansar

Deus se agradou da atitude de Davi em consulta-Lo e lhe deu estratégias para recuperar tudo o que lhe fora tirado. Davi e seus homens seguiram o rastro dos amalequitas, mesmo sem saber direito onde eles estavam. No caminho encontraram um egípcio que há três dias não comia nem bebia. Davi tratou-o primeiramente e depois e um quis saber quem ele era. O homem disse que era um escravo de um dos amalequitas e que fora deixado para trás porque estava doente (v. 11-13).

Davi pediu-lhe que os levassem até o acampamento onde o grupo estava e assim o homem o fez (v. 15-16). Interessante essa passagem porque ela mostra que quando Deus quer dar a vitória ele usa até o inimigo para ajudar os seus. Davi seguiu com quatrocentos homens do seu exército porque duzentos deles não aguentaram prosseguir e ficaram no meio do caminho (v 10). Todos estavam exausto, mas Davi estava obstinado e não descansaria até conseguir o que queria. Em tempos de guerra, não dá pra descansar, ainda mais quando a nossa família está nas mãos do inimigo.

9 - “...Salvou Davi tudo quanto tomaram os amalequitas (v. 18)

Davi chegou de surpresa matou todos os que estavam no acampamento (v 17) e apenas alguns conseguira escapar tendo estes fugido. Davi então recuperou tudo o que fora sequestrado, mulheres, crianças e seus bens. E ainda levou consigo os despojos do inimigo (v 18-20). Davi voltou vitorioso. Ele reverteu o quadro de sofrimento que se abateu sobre sua família e tomou a decisão certa, saiu do quadro de prostração, levantou-se e foi à luta, porém, não mais sozinho, mas com Deus.

10 - “...Visto que não foram conosco, não lhes daremos do despojo (v.24b)

Ao retornarem até o ponto onde os duzentos homens de Davi aguardavam por estarem cansados, surge um impasse entre eles. Os que foram, e enfrentaram a batalha julgaram ter direito exclusivo sobre os despojos e não pretendiam repartir com os que ficaram no meio do caminho. Porém, Davi, com justiça interviu na situação e disse que, tanto o que vai diretamente à luta quanto o que fica na retaguarda dando o suporte são igualmente importantes e que merecem a mesma recompensa, considerando que aqueles homens não prosseguiram, mas ficaram cuidando da bagagem. Esta decisão permaneceu entre os seus homens e foi aplicada também, durante o seu reinado.

No sentido espiritual, há uma grande lição nesse episódio. Muitos são os missionários que estão no campo de batalha enfrentando a luta de forma mais direta, no entanto, o seu trabalho não dispensa a ajuda de outras pessoas, tanto no sentido financeiro, quanto de intercessão. Tanto o que vai, quanto o que fica na retaguarda dando suporte, são igualmente importantes para Deus e dignos da mesma recompensa no Céu.

Conclusão

Ziclague nos ensina que muitas vezes, apesar do aparente conforto dos lares, em seu interior, há famílias totalmente reféns do inimigo. Enquanto o líder da casa está ausente, o inimigo ataca. Essa ausência pode até não ser física, mas afetiva e espiritual. Quando não abraçamos e ensinamos os nossos filhos, o inimigo o adota. Essa é a realidade. Muitos pais desatentos, só percebem o abandono quando já é tarde demais, quando seus filhos e suas esposas já foram levados cativos. O sofrimento, nesses casos é inevitável, para todos. Mas Davi nos ensina que apesar de tudo, quando procuramos no Senhor as estratégias para salvar a nossa família. Ele se agrada e nos levanta para vencer. Que possamos refletir nesta mensagem com profundidade, pois grandes ensinamentos nos oferece.
Sonia Oliveira

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