9 de dezembro de 2015

Filipenses: Cristo, o Nosso Exemplo - Ajuda 3

Paulo, após ter sido preso e mediante o seu apelo a César (At 22—25), foi levado a Roma para aguardar julgamento ali. Seu estado como prisioneiro não foi pesado naquela ocasião, pois tinha o direito de morar numa casa alugada por ele e de receber as visitas dos amigos.

Certo dia, surgiu ali um mensageiro com sinais de ter feito uma longa viagem; era Epafrodito, membro da igreja em Filipos. Tinha trazido uma oferta para o apóstolo. Agradecendo aos filipenses a oferta, Paulo escreveu esta epístola (Fp 4.15-18).

Paulo tinha, porém, razões mais sérias para escrever esta epístola. Parece que havia algum defeito na unidade da igreja. Não havia discórdia séria, porque a igreja como um todo estava numa condição de bom crescimento espiritual. Mesmo assim, a harmonia não era perfeita entre alguns dos membros. Parece ter havido alguma diferença de opinião quanto à questão de perfeição cristã (3.15), e os líderes na controvérsia eram duas obreiras cristãs, Evódia e Síntique (4.2). Não havia separação aberta, mas um leve esfriamento estava entrando na atmosfera da igreja.

Paulo não denuncia isso, nem sequer repreende, mas pro­cura derreter aqueles primeiros flocos de gelo que estavam surgindo no meio da atmosfera amorosa da igreja em Filipos. Consegue isso por meio de um compassivo apelo ao exemplo de Cristo.

O Compassivo Apelo à Unidade (Fp 2.1-4)

1. Os motivos para a unidade. Paulo menciona aqueles sentimentos e experiências que devem impulsionar os filipenses a desejar a unidade. (1) "Exortação em Cristo". A exortação é um conselho que anima. Cristo anseia pela unidade do seu povo (Jo 17.11), e esse fato deve ser razão suficiente para o seu povo procurar e conservar a unidade. (2) "Consolação de amor". Noutras palavras: lembrem-se da fortaleza e consola­ção que surgem do mútuo amor e não permitam que a falta de união lhes despoje dessa bênção. (3) "Comunhão do Espíri­to". A comunhão é o participar juntamente. Já são um em Cristo porque participam da mesma experiência (1 Co 12.13). Devem, portanto, reconhecer esse fato e viver à altura. (4) "Entranháveis afetos e compaixões". Se os corações são compassivos, não deve haver dificuldade em manter a unidade.

2. O apelo à unidade. "Completai o meu gozo". Paulo já falou da alegria que deriva da vida e conduta dos filipenses; agora pede que completem essa alegria e vivam em união. Não é que deviam fazer assim apenas para agra­dar a ele, mas para o próprio bem deles.

"Para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa". Ter o mesmo sentimento significa ter os mesmos desejos, alvos, pontos de vista, esperanças e temores. Significa trabalhar junta­mente em amor para atingir o mesmo propósito.

3. Ajudas e obstáculos à unidade. O que os ajudará a atingir e conservar a unidade? 


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3.1. Humildade. "Nada façais por contenda ou por vangloria". O partidarismo surge do amor às contendas ou do desejo de gratificar o nosso próprio orgulho, e procura suprimir a vontade de outras pessoas. A vangloria é a dis­posição de pensar que somos importantes, de exigir uma posição de destaque e firmar-nos nela contra as reivindica­ções de outras pessoas.

"Mas por humildade; cada um considere os outros su­periores a si mesmo". Paulo quer dizer que uma pessoa que vive para servir aos outros e que luta em prol de causas que ajudam ao próximo, ao invés de buscar seus próprios interesses, está se colocando abaixo do seu próximo, Quando, por exemplo, alguém abandona tudo para ir a um país estrangeiro, a fim de pregar o Evangelho, está considerando aqueles estrangeiros mais importantes do que ele próprio.

3.2. Altruísmo. "Não atente cada um para o que é pro­priamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros". Quando alguém está absorvido em si mesmo, seu coração é fechado contra outras pessoas. Nossos próprios interesses, quando indevidamente ressaltados, produzem barreiras entre nós e outros. Viver para o eu-próprio é a verdadeira raiz do pecado.

O Exemplo Inspirador de Cristo (Fp 2.5-11)

"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus". Isso quer dizer que não somente devem seguir o exemplo de Cristo no que diz respeito à sua conduta exterior, mas também no que diz respeito à sua vida interior. Devem prestar atenção àquilo que prendia a atenção dEle, amar as coisas que Ele amava, odiar as coisas que Ele odiava. Devem ver as coisas do ponto de vista dEle, a atitude dEle deve ser a deles. Mais especialmente, devem seguir o exemplo do humilde servo que revelou ao entregar a si mesmo para a salvação do mundo. Notemos que estes versos declaram as doutrinas funda­mentais do Cristianismo: (1) A encarnação, mediante a qual o Filho de Deus se tornou homem, a fim de que o homem seja feito um filho de Deus. (2) A expiação, que significa que o Filho de Deus morreu em prol do homem, a fim de que o homem vivesse para Deus.

1. Sua preexistência. AquEle que nasceu em Nazaré existia previamente num estado mais glorioso. Na eterni­dade, existia "em forma de Deus" (Fp 2.6): tinha a mesma natureza de Deus; "Verdadeiro Deus de verdadeiro Deus", conforme diz um antigo credo. Sua existência não começou na ocasião do seu nascimento, nem terminou coma sua morte.

2. Sua encarnação. Embora subsistisse em forma de Deus, "não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas ani­quilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens". Quando foi comissionado para salvar a raça humana, não considerava a sua natureza divi­na um motivo para isenção do dever. Livremente deixando de lado por um tempo a sua glória e atributos divinos, tro­cou a forma celestial de existência por uma forma terrestre, e como Filho de Deus, tornou-se o Filho do homem. Assim como em certa ocasião deixou de lado as suas vestes exter­nas a fim de lavar os pés dos seus discípulos (Jo 13.3-5), também, por alguns anos, deixou de lado a sua glória ex­terna a fim de purificar do pecado a raça humana. Quando o Filho de Deus se tornou homem, recebeu o nome para descrever sua missão terrestre: JESUS (Mt 1.21). AquEle que era Mestre de tudo (Cl 1.16) ficou sendo o Servo de todos (Mc 10.45; Lc 22.27).

3. Sua humilhação. "E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz". Na vinda do Filho de Deus, havia uma dupla descida: para assumir a natureza humana e para morrer a morte humana. Viveu e morreu humanamente. Não era uma morte comum, era a forma mais vergonhosa e dolorosa da morte — a morte na cruz. Quando o seu corpo foi deitado no túmulo, a descida do Filho do Homem ficou completa.

4. Sua exaltação. "Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra". Assim foram cumpridas as próprias palavras de Cristo: "Aquele que se humilha será exaltado".E sendo que, no plano final de Deus, a exaltação está em proporção à humilhação, a exaltação de Cristo é a maior que existe no Universo, porque a sua própria humilhação foi a mais profunda. Sua recompensa foi a soberania universal, recebendo a adoração de toda Criatura (cf. Ap 5.6-14). Humilhou-se sob a poderosa mão de Deus e, em tempo oportuno, foi exaltado (1 Pe 5.6).

A Chamada Vigorosa à Atividade (Fp 2.12-14)

"De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença [não meramente para agradar a mim], mas muito mais agora na minha ausência [para agradar ao Senhor], assim também operai a vossa salva­ção com temor e tremor, porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade". A expressão "assim" indica que a exortação que se segue é baseada no exemplo do Senhor. Paulo como que diz: "Vosso Senhor e Mestre cumpriu a sua missão e atingiu o seu destino através da obediência [v. 8]; segui nos seus passos e deixai que Deus faça o que quiser nas vossas vidas".

Nesses versos, temos uma combinação de duas posi­ções que à primeira vista parecem contraditórias: a fé numa salvação já completada, havendo, porém, a necessidade de trabalhar; Deus trabalhando em nós e, mesmo assim, nós trabalhando da mesma forma; Deus nos sustentando, e o cristão ainda se desenvolvendo com temor e tremor. Essas declarações realmente representam ambos os lados da nos­sa salvação, o lado divino e o lado humano, o que nos ensina que a vida cristã é questão de cooperar com a graça divina.

1. A salvação já foi efetuada, mas precisa ser desenvol­vida. Três fatos devem ser notados. Primeiramente, Paulo está se dirigindo a cristãos que já aceitaram o dom da sal­vação oferecido por Deus e que agora estão progredindo na vida cristã. Em segundo lugar, a palavra "salvação" é compreensiva. O cristão foi salvo quando aceitou a Cristo. Está sendo salvo, no sentido de progredir naquele aspecto de salvação que tem a ver com a vida de santidade. Em terceiro lugar, será salvo quando a vinda do Senhor trouxer consigo o pleno resultado da salvação - a glorificação (Rm 13.11; 1 Pe 1.9,13).

Paulo aqui se refere ao aspecto contínuo da salvação que diz respeito ao progresso na vida de santidade, e que trata do assunto de despojar-se do "velho homem" e vestir-se com o "novo homem". A conversão não é a totalidade da salvação, o convertido precisa continuar a empregar os meios da graça e crescer espiritualmente (cf. 2 Co 9.10; Ef 4.15; Hb 6.1; 1 Pe 2.2; 2 Pe 1.5; 3.18).

2. Deus trabalha em nós, mas nós também temos que trabalhar. O Espírito de Deus nos inspira com um desejo de cumprir a vontade de Deus, e a nós cumpre cooperar com essas inspirações. Tudo que o cristão faz de bom é fruto da operação de Deus dentro dele e da sua entrega total a Deus.

3. Nossa salvação é certa, porém temos que temer e tremer. As Escrituras ensinam que a nossa salvação é ga­rantida, e que nada nos poderá separar do amor de Cristo, e que ninguém nos poderá tirar da mão de Deus. Sem tais promessas, não poderíamos ter a certeza da salvação, a alegria da salvação enquanto permanecemos fiéis. Do ou­tro lado, temos que desenvolver a nossa salvação com te­mor e tremor. Esse não é um temor que nos atormenta, baseado numa dúvida e incerteza quanto à nossa salvação. Significa um temor sadio e piedoso de fracassar naquilo que Deus quer de nós, temor este que nos levará a confiar sempre maisnEle e sempre menos em nós mesmos. Esse desenvolver a salvação com temor e tremor significa que a chave da nossa vida será: "Todavia, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo" (1 Co 15.10).

"Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas". Essas palavras se aplicam primariamente à íntima submissão à vontade de Deus. Enquanto Deus trabalha dentro de nós, inspirando-nos nos caminhos de santidade e serviço, devemos obedecer à sua orientação e não nos rebelarmos contra Ele no íntimo.Quantas vezes ficamos impacientes por dentro, discutindo com Deus e procurando um raciocínio para evitar a cruz! Nossa salvação se desenvolve enquanto obedecemos de boa vontade à orientação de Deus. Num certo sentido, toda a murmuração é contra Deus (Nm 16.11).

Note-se o verso 15. Os filipenses são exortados a exibir suas vidas em contraste com os israelitas que murmuravam (cf. Dt 32.5).

Ensinamentos Práticos

1. O antídoto ao orgulho. Havia certa falta de harmonia entre os cristãos de Filipos. Paulo sabia que, para se criar harmonia, é preciso humildade de atitudes. Assim como um fogo vai se apagando quando lhe falta combustível, tam­bém as disputas e as rivalidades cessam quando acabam as ambições. Quando cada um é disposto a ser o menor, quando cada um quer colocar seus companheiros numa posição mais alta do que a sua própria, então terminam as lutas e o es­pírito de partidarismo.

Como o apóstolo cria essa humildade de mente? Levan­do seus leitores à cruz, mostrando como Jesus estava dis­posto a abrir mão dos seus direitos a fim de salvar outros. Na cruz, há uma cura para todas as doenças espirituais. Ali somos curados dos nossos pecados, e ali seremos liberta­dos do orgulho e do egoísmo.

O Filho de Deus se dispôs a aceitar posições humildes, a fim de trazer paz à humanidade. Será que seus discípulos ousarão recusar situações de humildade, a fim de promo­ver paz entre os irmãos?

2. Outros! Quando pediram ao general Booth um reca­do a ser transmitido ao Exército da Salvação em todas as partes do mundo, ele telegrafou uma só palavra: OUTROS. Não poderia ter sido escolhida uma palavra melhor para expressar o espírito que deveria animar a vida e o serviço cristãos. Mal-entendidos surgem porque não conseguimos perceber o ponto de vista do nosso próximo. Sem querer, magoamos intimamente outras pessoas porque deixamos de levar em consideração os seus direitos e os seus sentimen­tos. Muitos males são praticados porque não pensamos. Freqüentemente fazemos uma crítica injusta por não nos colocarmos na situação de outros. Se o egoísmo fosse re­movido deste mundo, teríamos mais felicidade do que con­seguiríamos absorver.

3. A mente de Cristo. Somente à medida que temos a mente de Cristo, podemos realmente representá-lo dian­te do mundo. Há alguns anos, irmãos humildes foram ao ministro do rei da Dinamarca para pedir permissão de ir pregar o Evangelho aos negros da ilha de São Tome. O ministro lembrou-lhes que aqueles negros eram escravos, e que os escravos não confiariam neles, consideran­do que eram da raça dominadora. Os irmãos responde­ram: "Vamos nos vender como escravos por um período de tempo, a fim de ficarmos no mesmo nível com aque­les que queremos ajudar; olharemos nos olhos deles e contar-lhes-emos acerca do amor do Pai e do sacrifício de Cristo, erguendo-os para os privilégios dos Filhos de Deus".

Esses irmãos tinham a mente de Cristo. O que não aconteceria se a Igreja inteira possuísse esse mesmo espírito!

4. A obediência é o caminho para a humildade. Há pessoas que escolhem métodos estranhos na tentativa de se humilhar. Há monges que se chicoteiam cada noite para se tornar humildes. Outras pessoas adotam um tom de humildade e falam com desprezo acerca de si mesmas, e, em muitos casos, tudo não passa de uma máscara para o orgulho. Jesus não inventou nenhum método para tornar-se ridículo; não vestiu nenhuma roupa especial para chamar a atenção à sua pobreza. O meio de o Senhor se humilhar foi através da obediência! Nenhuma forma de humildade se compara à obediência. "Obedecer é melhor do que sacrifício, e escutar do que a gordura de carneiros".

5. Desenvolvendo o que Deus operou. Quando certo ministro estava visitando a Califórnia, foi levado para ver um vale fértil cheio dos frutos mais suculentos e de flores encantadoras. Havia menos de dez anos, conforme expli­cou o anfitrião, o vale era completamente seco e deserto. Foi tudo o resultado da atividade de certo homem. Viu que o solo poderia ser levado a produzir, comprou o vale intei­ro e, com grandes despesas, canalizou água para lá. Com­prando sementes apropriadas, entregou-as a agricultores, dividiu os terrenos entre eles, contou-lhes os seus planos e disse: "Aqui estão as sementes; aqui temos água, ali está a terra: vão trabalhando o meu propósito".

Conosco Deus agiu de semelhante maneira. Preparou o terreno do nosso coração, plantou ali a semente da vida eterna e aguou-a com o Espírito Santo, a água da vida. Essa é a parte que cabe a Ele. Agora Ele nos diz: "Operem o meu propósito". Qual é o propósito? (ver Fp 2.15,16; Ef 2.10).

6. "Desenvolvei... com temor e tremor". A salvação é uma posse tão preciosa que devemos ter o cuidado de não negligenciá-la. Disse Spurgeon: "Ninguém é tão cauteloso como aquele que possui a plena certeza da salvação, nin­guém tem tanto temor santo de pecar contra Deus, nem ; anda tão cuidadosamente, como aquele que possui a plena certeza da fé".


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Bibliografia M. Pearlman

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