10 de fevereiro de 2016

O discernimento de espíritos

O ideal na vida do cristão é que cada crente realmente nascido de novo viva na esfera da maturidade cristã, plenamente desenvolvida, o que significa cultivar a prática de constante oração, ser cheio do Espírito, ler e meditar na Palavra de Deus, cuidar continuamente de sua santificação, dar um santo testemunho com a sua vida e seu modo de viver, servir alegremente e de coração na obra do Senhor da maneira que Deus lhe orientar.

A vida cristã nesta dimensão conduz a um profundo discernimento, em geral, conforme as tarefas que o Senhor coloca à nossa frente. O apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios (1Co. 2.10-16) fala muito bem disso, bem como em muitas outras passagens paralelas.

Não esqueçamos que há também o discernimento humano, natural, introspectivo, que muitas pessoas já trazem do berço, contribuindo para isso o tipo de temperamento de que alguém é portador. Também contribuem decisivamente, para esta espécie de discernimento, a idade, o conhecimento, a sabedoria, a experiência, as provações da vida, a observação etc.

Uma Operação Divina

A referência em apreço aqui é 1Co 12.10, que trata do referido dom concedido pelo Espírito Santo, mas há outras passagens que aludem ao ssunto. É um dom divino altamente defensivo e necessário à Igreja do Senhor, como corpo coletivo, mas também aos seus membros em particular. Há três dons espirituais, que dada a sua semelhança, podem ser confundidos, caso o leitor não tenha maiores conhecimentos do assunto em pauta. Esses três são: a palavra da sabedoria, a palavra da ciência e o discernimento de espíritos (1Co. 12.8-10). Convém notar, que no original não apenas “espíritos” está no plural, mas igualmente o termo “discernimento”. Isto é, é um dom divino multifacetado na sua operação. Assim, os espíritos serão desmascarados, seja qual for a tática e a estratégia que usem.

A sabedoria, como dom espiritual aqui mencionado, manifesta-se através da direção divina, e opera na esfera do conhecimento, da pregação, do ensino da Palavra, da orientação, da escolha de obreiros; mas também no governo da igreja, nas emergências, e nas mais diversas situações. Vislumbres desse dom conseguimos ter já no Antigo Testamento, no caso de José (Gn. 41.23-29; At. 7.10), de Daniel (Dn. 1.17), de Salomão (1Rs. 4.29-34), de Davi (no livro dos Salmos e em episódios da sua vida, conforme narrado nos livros históricos da Bíblia). Na vida de Jesus este dom se manifesta de modo incomparável (Mc. 6.2; Lc. 2.46-47; At. 1.2).

A ciência, como dom do Espírito Santo, conforme vemos na passagem já aludida, é conhecimento revelado. É ver o invisível. É uma fração da onisciência e onividêncía de Deus. Essa ciência ou conhecimento, de que trata esse dom espiritual, tem a ver com fatos, eventos, pessoas e coisas. Quanto a pessoas, esse conhecimento sobrenatural tem a ver com fatos pessoais, mas nunca a leitura de suas mentes e pensamentos. Deus não transfere esse direito a ninguém.

Alguns casos bíblicos desse conhecimento sobrenatural, através do Espírito Santo, podemos ver em Samuel, tendo conhecimento antecipado sobre as jumentas perdidas de Quis (1Sm. 9.15-20) e também seu conhecimento antecipado dos sinais de confirmação do reinado de Saul (1Sm. 10.2-9). É o caso do profeta Eliseu, que sobrenaturalmente conheceu os movimentos do exército da Síria (2Rs. 6-8) e também o que se passava no íntimo de Geazi (2Rs. 5.20-26). É ainda o caso do profeta Aías, identificando e apontando a mulher de Jeroboão, antes que se aproximasse (1Rs. 14.6). Certamente temos casos desse dom operando em escala incomparável em Jesus (Mt. 16.23; Lc. 19.5; Jo. 1.48; 2.25; 4.18).

Os espíritos, como menciona a passagem de 1Co 12.10, são de três categorias: o espírito divino, o angelical e o humano, sendo que o angelical pode ser da parte de Deus, ou das trevas. O termo discernir, no original, significa “ver aquilo que está em oculto”. Na obra de Deus, este dom permite ao seu portador ver se o inimigo está mascarado, agindo disfarçadamente e prejudicando a obra de Deus, ou se o espírito humano está agindo de modo totalmente natural, carnal, temporal, secular. É, pois, um dom altamente defensivo para o povo de Deus que crê, busca e recebe os preciosos dons do Espírito Santo.

O fato narrado em Atos 16.16-18 é claramente um caso de operação do dom de discernimento de espíritos através de Paulo. O demônio que atuava naquela moça escrava procurou agir de forma mascarada, tentando enganar os servos de Deus, proferindo inclusive palavras elogiosas e verdadeiras em relação a Paulo e Silas, bem como a Deus mesmo, pois ele disse (por meio da moça) que aqueles homens anunciavam o caminho da salvação e, em seguida, referiu-se a Deus como “Deus Altíssimo”, reconhecendo a sua soberania sobre tudo e sobre todos. Mas Paulo logo viu que era um demônio que estava camuflado ali, e em nome de Jesus ordenou que fosse embora. Este dom do Espírito, como os demais, não agem segundo a vontade do seu portador, mas segundo a vontade de Deus e para a sua glória. Isto é, não é a todo instante que ele está em ação no seu portador, mas sim conforme a vontade de Deus.

Outrossim, o discernimento de espíritos não é simples empatia do espírito humano, mais avolumado em certas pessoas e noutras não. Certamente, o dom de que estamos tratando, discernimento de espíritos, está implícito no julgamento das profecias da igreja, como em 1Co. 14.29. Vê-se, pois, que este dom divino é de grande valia para desmascarar enganadores e falsários, que se apresentam como pessoas inofensivas, cooperadoras e santificadas, sem, no entanto, apresentarem frutos que os comprovem.
Pr. Antonio Gilberto da CPAD

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