15 de março de 2016

11.2 - No jejuar correto Mt 6 16-18


jejuar correto Mt 6 16-18

A CARTA MAGNA DO REINO DOS CÉUS
O SERMÃO DO MONTE
Mateus 6

No jejuar correto mostra-se a nova vida como serviço de nossa alma perante sua luta interna

16-18 Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
No tempo de Jesus os judeus observavam dois dias de jejum para todo o povo: o dia da expiação (Lv 16) e o 9º dia do mês abib. Esse último era promovido como recordação das duas destruições do templo (a primeira destruição sob Nabucodonosor em 586 a.C. e a segunda por Tito no ano 70). Agregavam-se ainda jejuns decretados em situações de grandes calamidades, p. ex., na falta de chuvas, em epidemias, guerras, pragas de gafanhotos etc. Nesses casos se definia como dias de jejum a segunda e a quinta-feiras. Aconteciam celebrações públicas na rua. Mais severo era o jejum no dia da expiação: “Quem, no dia da expiação, comer a quantia de uma tâmara, ou beber tanto quanto cabe no seu gole, esse é culpado”. Nesse dia sequer era permitido lavar-se. Também se devia deixar de ungir o corpo. Pelo contrário, as pessoas se aspergiam com cinzas, andavam descalças e adotavam uma expressão facial triste. Queriam parecer insignificantes, no intuito de significar tanto mais perante os outros (Esse é o trocadilho feito no texto original grego com “ocultar – brilhar”). Normalmente o jejum durava do nascer ao pôr do sol. Alguns devotos espontaneamente se encarregavam de outros jejuns particulares. Esse jejum espontâneo era tido em altíssima consideração. Acreditava-se que, com o jejum se conquistaria, junto de Deus um mérito especial, e pensava-se que, através de jejum, se poderia alcançar a suspensão de decisões condenatórias divinas.
Por isso se jejuava também pelos pecados do povo, a fim de afastar do povo a ira de Deus! Muitas vezes essa atividade do jejum era feita para chamar a atenção, para concentrar sobre si os olhares das pessoas. Jesus afirma: Um jejum desses é hipocrisia, e por isso condenável! O jejum correto é um pensamento íntimo de arrependimento e um coração curvado diante de Deus. Isso precisa ser exercido com pureza discreta. Para fora não se nota nada. Mas o que jejua revela ao próximo um “ânimo alegre” (cf. Mc 2.18).
O que significa, então, para a situação de hoje aquele jejuar? Existe um jejum espontâneo e um jejum ao qual somos conduzidos. Ambos os tipos de jejum encerram em si os perigos de que Jesus fala aqui.
O jejum voluntário consiste em todo tipo de renúncias que a gente se impôs, p. ex., simplicidade na comida e bebida, simplicidade na vestimenta e moradia, gastar com máxima moderação, desistir de vários prazeres, como um charuto, um copo de vinho, música, arte, vida social etc. Acaso o motivo de um tal jejum e renúncias é que “possamos ofertar mais para os objetivos do reino de Deus”? Ou o motivo é que queremos estabelecer uma lei com essas renúncias e limitações, a qual deve determinar que somente uma vida frugal é uma vida de fé autenticamente bíblica? Se esse último for o caso, o jejum não passa de hipocrisia, de arte teatral. Esse jejum já recebeu sua recompensa. – Ao lado do jejum voluntário há também um jejum que nos é imposto sem nossa participação. É uma “obrigação ao sacrifício”, uma renúncia forçada, é ter de soltar-se à força daquilo que amamos e prezamos, quer seja pela morte de um familiar mais chegado, pela perda dos bens e da pátria amada, quer seja por discórdias matrimoniais, abalos na profissão, perda da saúde, necessidades psíquicas e tensões, quer seja por guerra e fome, epidemias e enfermidades, frio e campo de concentração, denúncia ou perseguição.
Como devem ser suportados o jejum e a renúncia forçadas? Devem transcorrer de tal modo que a expressão do rosto se distorce a ponto de os demais poderem ver a tristeza? Deve-se falar do sofrimento em toda parte, para que as pessoas tenham comiseração? Será que muitas vezes essa “exibição” do sofrimento ou da renúncia a nós impostos não é mero egoísmo? Queremos ser observados, sentir a compaixão, queremos representar algo diante dos outros!
Inversamente, tal comportamento não seria falta de amor, p. ex. , quando se tenta deprimir, através do próprio ânimo de luto, a todos os membros da família, aos amigos ou colegas de trabalho? Machucamos ao outro com a nossa própria ferida.
Não há dúvida de que, na convivência entre pessoas, é algo grandioso que um carrega o fardo do outro. E, se o misericordioso Deus concede ao sofredor pessoas próximas como conselheiras, devemos e podemos derramar nosso coração. Então essa revelação das cargas geralmente traz alívio.
Mas isso é algo totalmente diverso do “jejuar” descrito acima, usado para aparecer, para atrair os olhares sobre a face retorcida.
Em lugar do “mostrar-se” perante as pessoas, Jesus requer “a cabeça ungida”, o rosto lavado como sinal de libertação. A pessoa tem um olhar alegre mas não obstante jejua ocultamente e leva em silêncio a dor e tristeza perante o Pai celeste, que vê em particular.
Esse comportamento, porém, não seria fingimento? Uma hipocrisia à maneira inversa? Falta de veracidade, que para fora mostra algo bem diferente do que acontece na verdade? Não, ocultar o jejum e o sofrimento não é hipocrisia e falta de sinceridade, mas disciplina sagrada e compromisso de amor perante o próximo. O que é ocultado diante das pessoas é tanto mais revelado diante do Pai no céu, ele que vê para dentro do que est á oculto. Quando a boca sorri e os olhos brilham enquanto no coração se debatem as lutas, a causa da alegria não reside na própria pessoa que jejua e sofre, mas em Deus. O cristão que sofre sabe com certeza inabalável que também o mais sombrio tempo de jejum lhe redunda para o bem (Rm 8.28).
Assim, aprende a jejuar com o rosto radiante, aprende a sofrer com hinos de louvor nos lábios.
Fonte: Mateus - Comentário Esperança

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