12 de junho de 2016

20- A pergunta sobre o jejum feita pelos discípulos de João, Mt 9.14,15

A pergunta sobre o jejum feita pelos discípulos de João, Mt 9.14,15

(Mc 2.18-20; Lc 5.33-35)

14-15 Vieram, depois, os discípulos de João e lhe perguntaram: Por que jejuamos nós, e os fariseus [muitas vezes], e teus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento (em tradução mais livre: os companheiros do noivo), enquanto o noivo está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias hão de jejuar.

Em relação à tradução

Literalmente, “filhos da câmara nupcial” são os amigos do noivo convidados para o casamento. A principal função dos amigos do noivo consistia em contribuir para a festa com tudo quanto estivesse em seu alcance. – A cerimônia iniciava com a condução da noiva da casa de seus pais à casa do noivo. Logo que o noivo e seus amigos chegam, o séquito se põe em movimento, acompanhado de música e toques de tambor. Noiva e noivo estão ornados com guirlandas. A noiva é carregada numa liteira, rodeada pelo noivo e seus amigos. De todas as maneiras é enaltecida a beleza da noiva. Entoam-se alegres hinos nupciais. As pessoas cantam, riem e dançam diante da noiva, até que o cortejo chega à casa do noivo. Em caso de uma noiva virgem a festa dura sete dias, em caso de uma viúva três dias. Cada dia aparecem novos convidados. Somente os “filhos da câmara nupcial”, os amigos do noivo, precisam permanecer a semana toda junto dos noivos. Outros costumes nas núpcias veja sob Mt 25 e Jo 2 (de St-.B, p. 504). Em relação a “filhos da câmara nupcial” veja também o exposto na nota c em Mt 8.5-13.

Quem eram os discípulos de João? Seu líder João Batista já estava na prisão. Se tentarmos elucidar como seu aprisionamento devia estar influenciando seus seguidores, poderemos compreender que nessa época, mais do que antes, buscavam aproximar-se de Jesus.

Todavia, eles estavam decepcionados com Jesus. Se ele tivesse dado início a uma atividade impetuosa, se tivesse dado esperanças a eles, os discípulos de João, de que em breve arrebentaria as portas da prisão da fortaleza de Maquero (em que seu mestre estava prisioneiro), então sim teriam manifesto plena e total concordância com Jesus e sua atuação. Muitas vezes pesou-lhes no coração ao terem de observar como a multidão rodeava o Senhor e seguia tão exclusivamente seus passos, como se não existisse mais um João Batista no mundo. Constatando, ademais, que nem mesmo Jesus trabalhava pela libertação desse grande homem, mas que, pelo contrário, celebrava até banquetes com publicanos e pecadores, quando eles pensavam que ele deveria ficar de luto e jejuar por João Batista na cadeia, então é muito natural e compreensível que seu desgosto com Jesus se transformasse em irritação amarga. Podemos compreender a sua pergunta: Como é possível que nós, como discípulos de João, como também os fariseus, jejuamos com tanta frequência, e seus discípulos nem sequer jejuam? Seus discípulos comem e bebem e fazem alegres festas!

Assim como muitas vezes dois partidos contrários se aliam por causa de uma irritação conjunta contra um terceiro, também aconteceu neste caso. Discípulos de João, fariseus e escribas eram unânimes em sua posição, em sua irritação contra Jesus. Por terem ficado parados junto de seu mestre, o precursor do Senhor Jesus, os discípulos de João de fato retrocederam e até se tornaram críticos do Senhor Jesus.

O Senhor Jesus lhes disse: Acaso podem os companheiros do noivo estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão, quando o noivo lhes será tirado. Então, sim, jejuarão.

A resposta de Jesus parece tanto mais incisiva quando lembrarmos o último testemunho do Batista sobre ele: “O que tem a noiva é o noivo. O amigo do noivo que está presente e o ouve, muito se regozija por causa da voz do noivo” (Jo 3.29). Assim o Batista havia descrito a glória espiritual de

Jesus e seu relacionamento com ele. Por isso Jesus agora, diante dos discípulos de João, apenas queria dar continuidade àquele discurso do mestre deles, respondendo: “Acaso podem os amigos do noivo (ou os convidados das bodas) ficar tristes enquanto o noivo está com eles?” Essa seria uma questão compreensível, mesmo para o sentimento dos seguidores de João. O Messias ainda está celebrando suas bodas.

É possível que os fariseus concordassem com uma exceção à regra do jejum para as semanas de festejos nupciais. Não seria uma tortura ter de jejuar no dia das bodas?

Esse banquete de Jesus na casa de Mateus com os publicanos é, para o Senhor, como uma ceia de núpcias. Jesus designa a si próprio como o noivo.

Com essa afirmação, Jesus expressa muitas coisas. Coloca-se como igual a Deus, que no AT é frequentemente nomeado como noivo ou esposo do povo de Israel. Além disso, coloca-se acima de todos os demais enviados e profetas de Deus. Eles substituíam um ao outro. Um noivo, porém, não pode ter outro ou outros ao lado de si ou ser substituído por outro enquanto estiver vivo. Jesus, porém, vive eternamente. O relacionamento da comunidade com ele e dele com a comunidade é exclusivo. Jesus não tem outro ao seu lado. A comunidade está ligada unicamente a ele para todo o sempre.

De repente, porém, o olhar do Senhor Jesus se obscurece. Parece que uma imagem está passando diante dos seus olhos. Em tom solene ele diz: Haverá dias…, interrompendo-se no meio da frase como se estivesse diante de um terrível segredo. Haverá dias em que o noivo será tirado deles! Ou seja, no final dessa alegre semana de bodas o noivo subitamente será arrancado com violência. Então virá o duro tempo do jejum para os que hoje estão alegres. Não será necessário que o jejum lhes seja imposto. Jejuarão espontaneamente. Nessa resposta de sentido profundo Jesus anuncia pela primeira vez nos sinóticos a sua morte violenta. A forma verbal e a palavra utilizada por Jesus designam um golpe súbito, que deverá atingir o sujeito do verbo. O jejum futuro, que Jesus contrapõe aqui ao jejum legalmente vigente em Israel, não é um costume apenas externo e legalista, e sim expressão de uma dor profunda. É um jejum que brota da situação de aflição em que a comunidade de Jesus, o corpo de Cristo, se vê lançada no meio do mundo por causa do passamento de seu cabeça. O objetivo do jejum é caracterizar com maior seriedade a oração e conquistar com maior segurança o socorro divino, o Espírito Santo, o Paracleto. Essa afirmação de Jesus refere-se, portanto, a toda a história da comunidade de Cristo até o seu retorno. Estas palavras do “noivo” e do “jejum” foram gravadas profundamente no coração dos discípulos, sendo transmitidas nos evangelhos. É por isso que soam quase idênticas nos três evangelistas Mateus, Marcos e Lucas.

Os discípulos do Batista pressentem e aprendem que a morte de Cristo alcançará um significado maior para os discípulos do Senhor e para o mundo que o sofrimento martirial de João Batista. No entanto, constitui o pensamento mais aprazível dessa palavra de Cristo que podemos, de acordo com o Espírito de Cristo, celebrar festas de alegria celestial pela salvação dos pecadores, mesmo durante a prisão de um profeta e até no pressentimento de que a própria morte está próxima. Realmente, o

Senhor tinha participado da festa na casa de Mateus não por causa do banquete, mas por estar faminto e sedento por almas humanas. Ele havia encontrado ali almas humanas cheias de anseio.
Fonte: Mateus - Comentário Esperança

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