25 de junho de 2016

Noticia: A ressaca da Brexit: o mundo pode esperar uma catástrofe?

A semana terminou com uma das maiores surpresas do século: em um referendo polêmico e acirrado, o Reino Unido decidiu abandonar a União Europeia (UE). Com a participação de 72% dos eleitores aptos a votarem, 52% deles escolheram sair do bloco, ao passo que 48% defenderam a permanência.

O resultado final foi recebido com choque por economistas, cientistas políticos e líderes mundiais. Afinal, essa é a primeira vez que um país desenvolvido se desliga do bloco. O clima, agora, é sombrio, especialmente por conta das dúvidas acerca do que acontecerá na esfera política na Europa e em todo o mundo.

“Esse é o maior risco político enfrentado pelo mundo desde a crise dos mísseis em Cuba”, lamentou no Facebook Ian Bremmer, cientista político e fundador da consultoria Eurasia Group. Jan Techau, diretor do centro de relações internacionais Instituto Carnegie, classificou a última sexta (24) como “um dia devastador” e disse que a reputação da UE saiu abalada.

“É uma catástrofe”, comentou a EXAME.com o professor José Niemeyer, coordenador da Graduação e Pós-Graduação em Relações Internacionais do IBMEC. “Gera instabilidade da esfera econômica, na esfera política-institucional e gera uma mudança na perspectiva geopolítica”, explicou, “a partir dessa sexta, a trajetória das relações internacionais tomará um novo rumo”, considerou.

Esses rumos, contudo, não estão nada claros e é isso que vem assustando analistas e economistas. A expectativa é que os termos dessa saída sejam esclarecidos nos próximos meses, mas a saída efetiva do país do bloco deve acontecer apenas nos próximos anos. Ainda assim, já trouxe efeitos significativos para os britânicos e para o mundo.

Enquanto David Cameron anunciava a sua renúncia depois da derrota da campanha pela permanência, a Escócia declarava estar preparando um novo plebiscito sobre a sua independência e a Irlanda do Norte informava a reavaliação da união com a Irlanda. Tanto na Escócia quanto a Irlanda do Norte, a população votou majoritariamente contra a saída.

Isso só mostra que o clima não está dos melhores. E que esse processo de desligamento será longo e doloroso. Em um relatório divulgado no dia anterior ao referendo, os economistas e analistas políticos do banco alemão Deutsche Bank trouxe alguns cenários futuros e tentam montar esse complexo quebra-cabeça.

De acordo com a análise, levará ao menos três anos até que Reino Unido e UE tenham renegociado os termos. Isso, é claro, se o Conselho Europeu permitir a extensão do prazo de dois anos previsto no Art. 50 do Tratado de Lisboa, o termo que rege o funcionamento de todo o bloco. E a alta cúpula já disse que quer o país fora o mais rápido possível.

Além disso, a decisão britânica, aliada ao sentimento de insatisfação em relação ao bloco que é hoje formado por 28 países, poderá ainda trazer graves consequências do outro lado do canal da mancha, visto que outros países, como Itália, podem vir a convocar referendos.

Ainda segundo o banco, um cenário que calcula ser até 20% possível é justamente esse que prevê a fragmentação do poder da EU. Forçado a lidar com a desfiliação de seus membros, o bloco observará a sua relevância diminuir na escala regional e global.

No que diz respeito ao euro, uma menor integração poderia impactar a capacidade que o Banco Central Europeu tem de lidar com as pressões do mercado. “Na pior das hipóteses, isso pode levar a novas crises nos moldes de 2010 e 2012”, considerou o banco.

Uma previsão mais moderada, cujos economistas calculam com 70% de probabilidade, seria a saída pelo meio, avaliando uma crise de cada vez. Esse, explica o banco, é o modo convencional de a UE lidar com os problemas e significaria a diminuição no ritmo da integração entre os países e uma posição de observador em relação aos possíveis novos desligamentos.

Do ponto de vista econômico, o movimento é visto como um desastre.

Após o anúncio, os mercados jogaram a libra ao seu menor nível em 31 anos e derrubaram as ações europeias. 88% dos economistas do país se posicionaram contra essa saída e, na semana passada, um grupo formado por 10 vencedores do Nobel de Economia também advertiram sobre as consequências negativas para a economia do país.
Calma. Muita calma

Embora essa incerteza tenha incomodado grande parcela de analistas e líderes, há que se ter em mente o papel e a importância que o Reino Unido efetivamente tem na UE. O próprio Bremmer, em entrevista à revista The Economist, considerou que o país não era tão relevante para o bloco há alguns anos.

Na avaliação do professor José Maria Júnior, cientista político das Faculdades Integradas Rio Branco, a saída do Reino Unido não deixa a UE desestruturada, uma vez que o país sequer fez parte do seu arranjo inicial, mas explica que é necessário ter atenção para os termos dessa saída, só assim serão notados os impactos que ela trará.

Por enquanto, ele não a vê como um baque. “O Reino Unido é uma grande potência, do ponto de vista econômico e político, mas nunca se envolveu verdadeiramente com o bloco”, notou em entrevista a EXAME.com. Basta lembrar que o país passou a ser parte da UE nos anos 70, mais de uma década depois do início do projeto de comunidade que deu origem ao que temos hoje.

Ainda de acordo com ele, o ponto delicado dessa situação é como os países reagirão a essa saída. “Esse pode ser um sinal para que outros sigam esse caminho. Mas faço a ressalva de que nem todos os países são como o Reino Unido e não têm essa autonomia. A Itália, por exemplo, não é o Reino Unido”.
Fonte: Exame.


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