5 de outubro de 2016

Noticia: Continência nos Jogos: Almirante nega que gesto era marketing, ‘Foi espontâneo’

Diretor do Ministério da Defesa, almirante Paulo Zuccaro diz que gesto comum entre atletas militares nos pódios da Rio 2016 é apenas respeito à bandeira e ao hino nacional

Responsáveis por mais da metade das medalhas do Brasil na Rio 2016 – 13 em 19 – os atletas incorporados aos quadros das Forças Armadas fizeram questão de prestar continência na maioria das vezes que subiram ao pódio nos Jogos. Algo que já tinha chamado a atenção durante o Pan-Americano de Toronto, em 2015, e ganhou ainda mais repercussão na Olimpíada em casa. Responsável pelo programa do Ministério da Defesa de apoio aos esportistas, o vice-almirante Paulo Zuccaro negou que gesto seja feito com objetivo de promoção do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica.

“Nosso programa nunca teve uma finalidade de marketing, de ser usado para aumentar o prestigio das Forças Armadas junto à sociedade. Até porque esse prestígio já é alto há muito tempo. Quanto a essa questão da continência, começou nos Jogos Pan-Americanos e foi espontâneo, não obrigamos o atleta a prestar a continência, que é uma saudação militar. Deixamos à vontade. Como podemos observar, nos Jogos Olímpicos praticamente todos fizeram. Espontaneamente”, disse o almirante, que participou de audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, nesta terça-feira (4).

A continência no pódio provocou polêmica por ser considerada por alguns uma manifestação política, o que é proibido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) durante os Jogos. A judoca Rafaela Silva, por exemplo, militar da Marinha, admitiu que evitou prestar a continência ao receber sua medalha de ouro no Rio por medo de sofrer alguma punição.

Atletas militares, Bernardo Oliveira (tiro com arco), Rafael Baby (judô) e Bárbara Seixas (vôlei de praia) participaram de audiência pública na Câmara

“Disseram que a Rafaela não fez porque temeu algum tipo de questionamento do COI por ser um gesto político, mas muito pelo contrário. O fato de ser uma continência militar é, por definição, um gesto não político, mas sim de respeito ao símbolo nacional que está sendo exibido naquele momento”, completou o almirante Paulo Zuccaro.

O Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) do Ministério da Defesa existe desde 2008 e conta atualmente com 627 beneficiados. A ideia é incorporar atletas de alto rendimento aos quadros do Exército, Marinha e Aeronáutica como forma de apoio aos esportistas, que passam a contar com salários de aproximadamente R$ 3.200, além de toda a estrutura de instalações militares e atendimento médico. Em contrapartida, os atletas disputam competições representando as Forças Armadas.

Para serem integrados ao projeto, os atletas precisam passar por um curso de formação de 45 dias, onde aprendem alguns conceitos militares. Para o judoca Baby, sargento do Exército desde 2010, a continência que prestou ao receber sua medalha de bronze na Rio 2016 foi uma maneira de mostrar respeito à bandeira do Brasil e também agradecimento às Forças Armadas pelo apoio nos últimos dois ciclos olímpicos.

“Foi um gesto de respeito e a saudação do militar à bandeira. É um sentimento de agradecimento às Forças Armadas e um respeito… Em 2010, mais da metade da minha renda vinha do Exército. Tinha que pagar aluguel, minhas contas, e aquilo foi fundamental para toda minha preparação. Primeiro para Londres, onde fui bronze. E continuou para 2016. Além do apoio financeiro todo mês, o primeiro Mundial que disputei foi o Exército que financiou minha ida. As Forças Armadas contribuíram muito para o que sou hoje”, disse Baby, que também esteve na Câmara dos Deputados.

Militar da Marinha, a jogadora de vôlei de praia Bárbara Seixas, prata no Rio ao lado de Ágatha, acabou sendo uma das poucas integrantes do programa das Forças Armadas a não prestar continência no pódio. Segundo ela, nada intencional. Apenas não conseguiu pensar no gesto por conta da emoção ao receber a medalha.

“Eu não prestei, mas confesso que estava em um estado de emoção extrema. Não parava de chorar, estava me sentindo realmente muito grata por tudo que estava vivendo. Mas em diversas situações, fiz questão e prestar a continência quando foi cantado o hino nacional. É um símbolo de gratidão. Não é obrigatório, é uma coisa voluntária dos atletas, justamente para demonstrar respeito e gratidão. Me sinto muito orgulhosa de participar disso”, disse a atleta.

Segundo o almirante Paulo Zuccaro, as Forças Armadas continuarão deixando para cada atleta a decisão sobre prestar ou não a continência, mas admitiu que os militares gostam quando o gesto é feito no pódio em grandes competições.

“Pretendemos manter esse assunto exatamente como vem sendo conduzido: um gesto que tem seu caráter totalmente espontâneo e sempre no sentido de representar o respeito que o atleta militar tem ao seu país. É lógico que nós, como militares, ficamos muito honrados ao vermos um atleta no pódio fazendo uma saudação militar. Mas insisto que isso não é um programa de marketing. Acaba sendo natural. Não há necessidade de pedir. Quando eles entram no programa, são submetidos a um estágio de formação, um treinamento. Vão sendo consolidados os valores militares e isso acaba ocorrendo de forma natural”, concluiu Zuccaro.
Fonte: Globo Esporte

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