15 de janeiro de 2017

QUATRO DIMENSÕES DA FÉ

O ASPECTO MATERIAL
De acordo com os evangelhos, várias pessoas procuraram Jesus por motivos diversos. Certa vez, o Mestre multiplicou pães e peixes para a multidão, mas sendo procurado no dia seguinte, disse ao povo:
“Vós me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes” (João 6.26). Aquelas pessoas criam que Jesus poderia lhes dar pão, mas esse nível de fé não salva.
A necessidade material e física, muitas vezes urgente, nos faz sair em busca do suprimento. Além disso, existe o desejo. Depois de atendidos os requisitos da sobrevivência, almejamos também a supérflua satisfação da vaidade. Muitas vezes vemos em Cristo a possibilidade de resposta para todos esses anseios, que podem passar do razoável ao absurdo.
O que você espera do cristianismo? Emprego, empresa, dinheiro, carro, saúde física, casamento, casa, roupa e comida? Tudo bem. Jesus pode nos dar coisas deste mundo e resolver nossos problemas naturais, mas esta não é a essência do evangelho.
Se pedimos ao Senhor apenas as coisas que o ímpio já tem, existe algo muito errado com a nossa fé e a nossa doutrina. Limitados a este nível, estaríamos apenas colocando a fé a serviço do materialismo e do nosso bem-estar.
A expectativa materialista pode ser frustrante quando Jesus diz “não”. “Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele” (João 6.66).
Poucos estão prontos para a resposta que Paulo recebeu: “A minha graça te basta” (2Co.12.9). Que Deus nos ajude a perceber o valor inefável da sua graça.

O ASPECTO ESPIRITUAL

Depois de decepcionar aos que buscavam o pão material, Jesus disse aos doze: “Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6.67-68). Portanto, o apóstolo conseguiu vislumbrar a importância do alimento espiritual e seu efeito na eternidade.
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm.14.17).
O propósito do evangelho é essencialmente espiritual. As questões físicas são importantes, porém secundárias. Por isso Jesus, antes de curar o paralítico disse: “Teus pecados estão perdoados” (Mc.2.5).
Mais importantes do que as coisas materiais são os valores espirituais: perdão, paz, alegria, misericórdia, unção, etc, mas é possível que os nossos elevados desejos espirituais ainda estejam contaminados pelo egoísmo. Pode ser que ainda estejamos atentos apenas às nossas necessidades e interesses: minha paz, minha alegria, minha salvação, etc. Estas são fases compreensíveis do nosso crescimento espiritual, mas podemos e precisamos avançar.

INDO ALÉM DE MIM MESMO

Algumas pessoas procuraram o Senhor Jesus para pedirem a bênção a favor de outros (Mt.8.6; Mt.15.22; Mc.5.23; Lc.5.18). Este é o nível do intercessor e do evangelista, que saem de sua zona de conforto em busca do bem para o próximo. “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp.2.4). Orar e agir em favor do próximo são atitudes mais importantes do que aquelas que visam o interesse próprio. Preocupar-se com a salvação das outras pessoas é extrapolar os limites do egoísmo. Esta é a fé que opera pelo amor (Gal.5.6).


FOCO EM DEUS

Tudo que até aqui foi dito tem o seu valor, mas o nosso alvo principal deve estar no próprio Deus, no desejo de conhecê-lo cada vez mais e viver eternamente com ele. Este é o nível do verdadeiro adorador.
É necessário perguntar: Se o Senhor não nos der o que esperamos ou tirar o que temos, continuaremos fiéis a ele?
O filho pródigo voltou para casa por causa do pão e não por amor ao pai. Que bom que voltou! O pai ficou feliz, mas sua motivação poderia ter sido melhor.
Precisamos atingir um nível de espiritualidade acima do egoísmo e do altruísmo. Isso não significa, a priori, que deixaremos de lado nossas necessidades ou as do próximo, mas existe uma dimensão sobrenatural a ser alcançada.
Deus não permitiu que Jeremias se casasse e tivesse filhos, mas nem por isso o profeta deixou de servi-lo (Jr.16.2). Deus disse que tiraria a esposa de Ezequiel, e tirou (Ez.24.15-18), mas nem por isso aquele servo deixou de ser fiel. Jó perdeu tudo, mas não desistiu da sua fé (Jó 1.20-22). Paulo chegou ao ponto de dizer que “morrer é lucro”, pois estaria com Deus (Fp.1.21). São exemplos de pessoas que alcançaram uma dimensão superior, e por isso tiveram capacidade de enfrentar situações que para muitos teriam sido insuportáveis.
Teremos alcançado esse patamar quando formos capazes de dizer verdadeiramente: “Senhor, estou disposto a abrir mão de tudo neste mundo, inclusive da minha própria vida, para te servir, te conhecer, te amar e contemplar a tua face”.
Pr. Anísio Renato de Andrade

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