26 de fevereiro de 2017

Noticia: Igreja Onda dura: Uma igreja para geração Y que não parece com igreja

Visual descolado e ideias progressistas diferenciam Lipão dos pastores tradicionais

Quem vê a cabeça raspada, os alargadores nas orelhas e as tatuagens que cobrem o corpo de Filipe Falcão, o Lipão, não imagina que ele seja o pastor presidente de uma igreja que já atraiu mais de três mil jovens em cerca de 12 cidades do país. A Onda Dura, ou apenas a Onda, é uma igreja que, mesmo não querendo ser igreja, busca a evangelização da juventude brasileira.
Fundada por Lipão há pouco mais de uma década em Joinville, a Onda Dura surpreende pela quebra de alguns paradigmas religiosos e pela conexão com o jovem da atualidade.
A presença de tatuagens, alargadores, piercings e cabelos coloridos são apenas algumas das inovações que diferenciam os encontros da Onda de outros cultos de igrejas evangélicas.
A Onda Dura nasceu como um braço da Comunidade Cristã Siloé, igreja evangélica pentecostal de Joinville fundada por Evaldo Duque Estrada, pai de Lipão. Mesmo seguindo os passos do pai, Filipe decidiu que seria o pastor e líder espiritual de um público diferente das igrejas tradicionais: a Onda é composta majoritariamente por jovens na faixa dos 20 anos.
Focada na Geração Y, aquela que nasceu entre as décadas de 1980 e 1990, a igreja trata com certa naturalidade temas considerados tabus em outras organizações religiosas.

A Onda Dura em Jaraguá do Sul
Depois de muitas viagens para apreciar os encontros da Onda Dura em Joinville, o pastor Tom Joner, ao lado de outros amigos, decidiu que era hora de Jaraguá do Sul ganhar uma unidade da igreja. Há pouco mais de 5 anos, a Onda Dura chegou no município com o sonho de crescer.
Os pequenos encontros no apartamento dos pais de Tom se transformaram em grandes celebrações que hoje reúnem, em média, 250 pessoas. “Antes, nossos encontros aconteciam na sala dos meus pais, depois em galpões, mas eles também já não comportavam mais o número de membros”, conta o pastor Tom Joner.

Pastor Tom Joner participou da fundação da Onda Dura em Jaraguá do Sul
Recentemente, a Onda encontrou o lugar ideal para realizar as celebrações dominicais conhecidas como “Somma”: uma balada. A escolha pode causar estranhamento, mas segundo o pastor, o local tem tudo que a igreja precisa.
“A balada tem estrutura de som, iluminação, possui palco e ar-condicionado”, explica. “Tudo isso para que a gente possa receber o pessoal bem e para que todos fiquem confortáveis enquanto escutam a palavra”, completa Tom.
Porém, o pastor da Onda de Jaraguá não esconde a vontade de conquistar um endereço próprio para a igreja. “Seria muito bom para que outros serviços como o atendimento pastoral e aconselhamento de casais pudessem acontecer com mais facilidade”, comenta.
O encontro que acontece todos os domingos tem o nome de “Somma”, pois representa a união de todos os pequenos grupos, os GPs, formados pelos integrantes da igreja.
Os GPs são grupos de 7 a 14 pessoas que se encontram durante a semana para sair, jantar e praticar atividades coletivas. “Este é o momento de integração da Onda, onde as pessoas se conhecem melhor e convivem verdadeiramente umas com as outras”, afirma Tom.
O “Somma” é o grande encontro dos GPs da Onda Dura

Segundo Tom, o principal desafio como pastor é conversar de igual para igualcom uma juventude que está o tempo todo conectada e tem acesso a muita informação. “Os jovens veem e leem muita coisa que às vezes pode distorcer o que se vive dentro da Onda”, comenta.
Para ele, casos de corrupção associados à outras igrejas acabam afastando muitas pessoas. “O que queremos mostrar é que a vida na igreja pode ser repleta de liberdade”, garante. O pastor garante que os interessados em acompanhar um dos encontros do “Somma” podem se sentir à vontade para participar.

“Costumo dizer que a nossa igreja é cheia não porque tem a porta larga, mas sim porque ela está sempre aberta”, brinca.
Quem surfa nessa onda?
Gabriela Perico estava desanimada com a vida religiosa quando encontrou a Onda Dura. Ela andava insatisfeita com a maneira como sua crença havia se tornado uma rotina. “Para mim, tudo parecia muito superficial, cheguei a ficar seis meses sem frequentar nenhuma igreja”, conta.
Na Onda Dura, Gabriela aprendeu a se envolver mais profundamente com as questões religiosas. “A Onda se trata de relacionamento, tanto com Cristo quanto com as outras pessoas”, explica.
Hoje, ela é líder de um dos GPs da Onda de Jaraguá do Sul. “Meu grupo se encontra sempre no fim de tarde do sábado”, afirma. “Saímos para conversar ou tomar um sorvete. Estamos sempre fazendo algo diferente”, completa.
Gabriela acredita que a pegada jovem da Onda Dura é necessária para alcançar mais pessoas. “Não adianta a gente ser tradicional se o restante das pessoas não é”, explica. “Na Onda, nós nos ajudamos, nos aconselhamos e cuidamos uns dos outros”.
Gabriela (ao centro) durante um dos encontros da Onda em Jaraguá do Sul
Para a Andressa Sett, a Onda Dura também representou uma mudança na maneira de enxergar a religiosidade. “Eu já não frequentava mais a igreja na qual fui criada porque não via sentido naquilo”, recorda. “Depois que conheci a Onda entendi como é viver a minha fé de maneira plena”, garante.
Antes de frequentar um “Somma”, Andressa já conhecia a Onda Dura, mas tinha uma opinião diferente sobre o estilo da igreja. “Eu passava na frente do lugar antigo onde os encontros aconteciam e estranhava o perfil dos adeptos”, conta.
Porém, a curiosidade dela falou mais alto e, para entender melhor os conceitos da Onda, Andressa assistiu algumas pregações disponíveis no Youtube. “Foi ali que comecei a me identificar com o que a Onda Dura representa”.
Andressa (no canto esquerdo) acompanhada das colegas de GP
Acompanhada do noivo, ela visitou a onda em julho do ano passado e sentiu que a transformação aconteceu no momento em que chegou no local do encontro.

“Eu estava passando por um momento muito difícil e já nesse primeiro encontro fui muito bem recebida e me senti muito amada”, lembra emocionada.Desde então, ela e o futuro marido não deixaram mais de frequentar as reuniões dominicais e também se integraram aos GPs. “No meu grupo falamos sobre tudo e ajudamos umas as outras”, explica. Elas normalmente se reúnem em casa e dividem o que irão comer e beber. “É algo bem comunitário”, brinca.
O contato com a Onda Dura transformou a vida de Andressa. “Hoje tenho uma fé ativa e consigo aplicar na prática os conceitos da Bíblia”, afirma. “Consigo colocar os ensinamentos em todos os momentos da minha vida como meu relacionamento, meu trabalho, minha família e minhas amizades”.

Um mar que não é só calmaria
Apesar do perfil discreto da igreja, a Onda também é alvo de algumas polêmicas. Em 2015, uma ação interna promovida pela igreja alimentou a curiosidade e gerou críticas de quem olhava de fora.
Os integrantes da Onda Dura passaram a carregar uma cruz de madeira com meio metro de comprimento junto ao corpo.
Ação onde deptos da igreja carregaram cruz de meio metro gerou polêmica
A ação, que chegou a ser caracterizada como “marketing de guerrilha”, a prática de gerar publicidade gratuita por meio de ações de impacto, foi defendida pelo pastor presidente Lipão.

“A intenção da cruz é conscientizar quem está disposto a seguir a Cristo de que é preciso carregar uma cruz que não é material, mas uma cruz de consciência”, disse o pastor para a reportagem do jornal A Notícia na época.Lipão também foi o centro de controvérsias por conta de publicações em redes sociais que, conforme denunciantes, incitavam comportamentos machistas, homofóbicos e até transfóbicos.
Em 2014, ele respondeu a um processo onde era acusado de apologia ao crime ou ao ato criminoso envolvendo a relação sexual entre jovens menores de idade. Na decisão, favorável para Lipão, o juiz considerou a acusação infundada.

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