24 de abril de 2017

Noticia: Rotina perigosa: quase 40% dos acidentes nas rodovias envolvem caminhões

No Brasil, o custo anual com acidentes e vítimas do trânsito é de R$ 50 bilhões. Dados de um estudo recente realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que são gastos R$ 137 milhões por dia. O Brasil é o país que mais mata no trânsito no mundo — só fica atrás da China e da Índia — e, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), 38% dos acidentes nas rodovias federais envolvem veículos pesados, apesar de eles representarem apenas 4% da frota nacional.

O SOS Estrada realizou um estudo que mostra que metade dos acidentes com motoristas profissionais ocorrem sem o envolvimento de outro veículo. São saídas de pista, tombamento, choque com objeto fixo. Situações típicas de acidentes provocados por fadiga. Choques entre caminhões respondem por 32% dos acidentes e apenas 18% envolvem veículos leves. “No Brasil, os motoristas se submetem a jornadas de trabalho muito pesadas, para não perder o serviço, porque precisam do dinheiro. Viajam sem dormir, geralmente acima do limite de velocidade e ainda são ‘premiados’ quando chegam antes do previsto. Dessa forma, quem usa droga tira o serviço de quem não usa”, conta Rodolfo Rizzotto, coordenador do programa SOS Estrada.

Foi na intenção de diminuir os números da violência nas estradas e de vítimas envolvidas nesses acidentes que, há um ano, passou a ser obrigatório o exame toxicológico para motoristas profissionais, ou seja, com Carteira Nacional de Habilitação (CNH) nas categorias C, D e E. Nos primeiros seis meses de vigência da lei, 33% dos motoristas dessas categorias fugiram do exame toxicológico no ato da renovação de suas carteiras. Uma das consequências foi a queda de 39% nos acidentes com caminhões nas rodovias federais no mesmo período, segundo a PRF.

“O exame de sangue detecta apenas a presença da droga, o do cabelo, mostra se o motorista é um usuário regular de drogas. E já é de conhecimento geral que quem faz uso de drogas estimulantes fica incapacitado para exercer profissões de risco”, explica Márcio Liberbaum, presidente do Instituto de Tecnologias para o Trânsito Seguro (ITTS). Não a toa o exame toxicológico venceu a última batalha e agora é obrigatório em todo o país. Tocantins foi o último estado a adotar a medida, prevista na Lei 13.103 desde março de 2016.

Para Rizzotto, a situação é tão grave que a cada dia é mais difícil encontrar um motorista profissional que nunca usou drogas para se manter acordado ou por lazer. Em operações educativas nas estradas, em que motoristas aceitaram se submeter a exame de sangue e urina, há casos em que mais de 50% estavam sob efeito de drogas. “A fuga do exame mostra a gravidade do problema. Antes, a droga mais usada pelos caminhoneiros era o ‘rebite’. Hoje, 70% usam cocaína”, diz Rizzotto. “Os que carregam cargas perecíveis chegam a fazer xixi em garrafas plásticas, com o carro em movimento, para cumprir os prazos de entrega”, completa.

No Brasil os caminhoneiros dormem em cabines minúsculas, com um olho aberto e outro fechado, por causa do risco de roubo, e a maioria recorre às drogas para suportar as duras jornadas, não por diversão. “Nesse sentido, o exame do cabelo salva vidas. Se por um lado obriga o dependente a buscar tratamento para continuar na profissão, por outro protege a sociedade, já que as estradas estarão mais seguras”, explica Liberbaum. “Com isso, vamos conseguir reduzir os acidentes, diminuir a exploração da mão de obra e combater o tráfico de entorpecentes que hoje depende do transporte rodoviário para sobreviver”, completa.
Fonte: Correio Braziliense

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