12 de junho de 2017

Noticia: Umbandaime: religião cresce no Rio e tem até dissidência

Doutrina se espalha por igrejas do Santo Daime e pelos 5 mil terreiros de Umbanda e Candomblé do estado.
Mistura de ritos de Umbanda, herdados dos escravos, com Santo Daime — manifestação religiosa dos seringueiros do Acre à base de chá de origem indígena, extraído da Ayahuasca, planta com poder enteógeno, que altera a consciência e induz ao êxtase —, a Umbandaime, criada no início dos anos de 1980, vem expandindo e já tem até dissidência: a Daimeumbanda.
As duas vertentes das novas religiões, cujos devotos divergem por discordâncias nos modelos de cerimônias, além de estarem presentes em cultos na maioria das seis igrejas do Rio que servem o Daime, já se alastraram por boa parte dos mais de 5 mil terreiros de Umbanda e Candomblé espalhados pelo estado.
Adeptos da Igreja Rainha do Mar tomam o amargo chá do Santo Daime em ritual com umbanda. Efeitos vão de visões místicas a vômito e diarreia
Estima-se que no Rio cerca de duas mil pessoas sigam as duas modalidades, que também já alcançam pelo menos 15 países: Estados Unidos, Peru, Equador, Colômbia, Bolívia, França, Suíça, Espanha, Alemanha, Argentina, México, Portugal e Irlanda, Israel e República Tcheca.
“Essas novas formas de sincretismo religioso são genuinamente brasileiras. Não são religiões importadas como as demais. É uma realidade que avança diariamente”, afirma o sacerdote umbandista e membro da Federação Brasileira de Umbanda (FBU), Marco José Câmara. “Toda iniciativa religiosa para o bem ao próximo é válida”, pondera o babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
Fundador e líder, também chamado de padrinho, da Igreja Rainha do Mar, em Pedra de Guaratiba, Marco Grace Imperial, de 59 anos, responsável por trazer, em 1983, o primeiro garrafão de Daime da comunidade Cinco Mil, no Acre, para o Rio, de onde sugiram novas igrejas, diz que a ampliação rápida das novas religiões tem infiltrado “aproveitadores da fé”, que chegam a cobrar em torno de R$ 1,5 mil para participações em cerimônias, muitas vezes com duração de até quatro horas.
“Isso acontece em qualquer religião. Mas o propósito do Daime é curar amarguras por meio da prática da caridade nas igrejas, que têm cunho filantrópico. Cobrar para se fazer o bem é contra a nossa essência”, lamenta Marco, que, há cerca de 40 anos, comanda no mínimo dois ritos por mês.
Marco Imperial e sua plantação de cipó e folhas que fornecem o chá do Santo Daime: cultura indígena
Mãe de santo relata “viagens fora do corpo”
Marco Imperial, que tem como mentor o lendário Sebastião Melo, discípulo de Mestre Irineu, precursores do Daime, é um dos poucos a dar entrevista. “Há ainda preconceito. Sempre relacionam fatos ruins ao Daime ou à Umbanda”, justifica, garantindo que já viu curas de câncer e Aids pelo chá, que tira a acidez do organismo.
Além da Rainha do Mar, também são referências em Umbandaime, as igrejas: Flor da Montanha, em Lumiar; Jardim de Saquarema; Aurora da Vida, em Vargem Grande; Barquinha, em Niterói, e Céu da Montanha, em Visconde de Mauá.
Em vídeo na internet, a mãe de santo Maria Natalina, fundadora da Umbandaime, fala de “transportes espirituais”. Ao som do atabaque, fiéis fazem rodas de ‘giras’, com danças e pontos de Umbanda, aliadas ao consumo e hinários do Santo Daime. “Fazemos viagens astrais, fora do corpo”, diz.

Questão financeira pode despertar a cobiça
A mãe de santo Rosiane Rodrigues, 44 anos, pesquisadora de religiões de matrizes africanas do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (Ineac/UFF), vê com certa desconfiança a questão financeira por trás de movimentos religiosos, que hoje despertam muita cobiça.
“O Brasil é, em tese, um país laico. A formação de novos movimentos religiosos é livre e legítima. No entanto, é preciso considerar que o setor movimenta um percentual significativo do Produto Interno Bruto (cerca de R$ 15 bilhões por ano) e isso vem crescendo muito”, alerta ela.
Marco Imperial esclarece que tem sua própria plantação de cipó Jagube (Banisteriopsis caapi) e folhas da Chacrona (Psychotria viridis), que originam, através da decocção, a Ayahuasca. “Nos rituais nós servimos o Daime de graça”, ressalta Imperial. Devido ao aumento da procura, a colheita dos cipós e das folhas tem sido feita em até seis meses em algumas plantações. Alguns fiéis mais antigos recomendam o consumo somente a partir de oito anos depois do plantio.
Fonte: O Dia


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