16 de janeiro de 2017

Estudo: Aprendendo com os erros dos outros

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Parte 5
2. O que devemos aprender?

“O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz.” Aristóteles


Leia também: Estudo Aprendendo com os erros de Sansão: Completo - Confira

No capítulo anterior vimos como a experiência – amarga – de Davi pode fornecer conselhos para cada um de nós, líderes. Todos eles foram extraídos do próprio relato bíblico e são orientações tiradas da vida real daquele que foi o maior rei de Israel.

Neste capítulo vamos apresentar duas medidas a serem tomadas criteriosamente, com a finalidade de cercar a nossa alma dos laços que insistem em apanhar de surpresa. A bem da verdade, o pecado é o mesmo desde o Éden, concorda? Eva foi tentada quando a serpente distorceu a verdade de Deus e fez a mulher imaginar uma situação “agradável aos olhos e desejável” (Gênesis 3.6). Ao longo dos séculos e milênios o Diabo insiste nessa estratégia, simplesmente “atualizando” o seu argumento; mas o modelo é o mesmo. E o que é pior: muita gente ainda cai na sua conversa.

Então, a pergunta a ser respondida neste ponto é: Como vencer a tentação de pecar quebrando uma aliança?

Se os nossos olhos estão vendo cenas agradáveis, se estamos sendo atraídos por paisagens encantadores, mas enganosas, é preciso levantar muros de proteção para que não aconteça conosco o que aconteceu com Davi, com Bate-Seba, com Urias e mesmo com Joabe. Mas como fazer isso?

Minhas sugestões

Sugestão número 1: Tenha um mentor com o perfil de Natã.

Nos dias de Davi havia um profeta, que frequentava o palácio do rei, e o seu nome era Natã. Falamos pouco a seu respeito em nosso livro.

Natã soube dos crimes cometidos por Davi porque o Senhor revelou a ele. É o cuidado de Deus com aqueles que são seus. Natã, então, foi ao palácio e entrou à presença de Davi, o que nos ensina que o rei o tinha como conselheiro. Nenhum líder deve imaginar que seu sucesso decorre exclusivamente da sua capacidade. A porta do gabinete de um líder deve permanecer aberta para os seus colaboradores; eles devem ter livre acesso a nós.

Na presença do rei, Natã contou uma parábola e Davi se indignou com ela. Veja a história:

O Senhor enviou Natã a Davi. Quando ele chegou, disse a Davi: Numa cidade havia dois homens, um rico e outro pobre. O rico tinha rebanhos e manadas em grande número; mas o pobre não tinha coisa alguma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; ela crescera com ele e com seus filhos; comia da sua porção, bebia do seu copo e dormia em seus braços; e ele a considerava como filha. Certa vez, um viajante chegou à casa do rico; mas ele não quis pegar uma ovelha sua ou um boi seu para dar de comer ao viajante que o visitava, assim tomou a cordeira do pobre e a preparou para o seu hóspede. (2Samuel 12.1-4)

Ao ouvir a parábola Davi ficou indignado. Disse que o homem que fez aquilo deveria ser morto! Natã, então, olhou nos olhos do rei e disse: “Esse homem és tu” (v. 7).

Qual a finalidade dessa ocorrência? Por que o Senhor revelou os segredos do rei e enviou o profeta para falar com Davi? Isso se chama cuidado, zelo, que irão resultar em restauração.

Mas é preciso que nós, líderes, tenhamos pessoas que nos possam confrontar. Quem do seu relacionamento tem liberdade de acesso para confrontá-lo? Quem do seu relacionamento pode fazer perguntas a você com liberdade? Quem é o seu mentor?

O sucesso eleva qualquer pessoa a um patamar de isolamento perigosíssimo. E no isolamento, a natureza humana pecaminosa, inclusive a nossa, de cristãos, pode “revirar-se no caixão” e querer sair. A história da humanidade e a própria história da Igreja tem casos e mais casos de pessoas que perderam a direção certa porque se deixaram levar pela autonomia, pela autossuficiência. Igreja só é igreja na comunhão dos irmãos. Ninguém é igreja sozinho. Você e eu temos o Espírito Santo habitando-nos, isso é certo e bíblico. Mas para sermos parte da Igreja precisamos ter comunhão uns com os outros. O isolamento é maligno.

Para concluir o plano da salvação da humanidade, Jesus precisava ir à Jerusalém a fim de morrer por nossos pecados. Pedro desconsiderou o aspecto social dessa obra, o aspecto comunitário universal e, pensando com a própria cabeça, disse a Jesus que não fosse àquela cidade. Tentou isolar Jesus. Qual foi a resposta do mestre: “Para trás de mim, Satanás, que não cogitas [não pensas] as coisas de Deus”.

O isolamento é maligno.

Por isso, cerque-se de pessoas de Deus, com visão espiritual aguçada e que tenham liberdade e sensatez para contribuir com você em todos os momentos da sua vida, seja na carreira pessoal no ministério, seja no trabalho secular se você o tem, seja nos novos projetos e até mesmo em decisões pessoais.

Quem é que confronta você, dizendo: “Esse não é o caminho de Deus para a sua vida. Afasta-te daí. Onde está a sua cabeça?”.

Amigo é quem não tem medo de confrontá-lo quando você está em caminhos de morte. Esse é seu amigo. Você tem gente assim ao seu lado?

Conta a história que um grande pintor trabalhava na execução de um pintura maravilhosa. Era um painel alto e ele trabalhava em cima do andaime. Um mês todo pintando a grande obra.

Quando o painel ficou pronto ele ficou embriagado com a beleza do quadro. A fim de contemplá-lo, afastou-se um pouco da imagem, ainda em cima do andaime. O amigo que estava embaixo, percebendo que o pintor cairia caso desse mais um passo para trás, tomou uma brocha que estava no chão dentro de uma lata de tinta e atirou-a no quadro, estragando a pintura.

O pintor irritado deu um pulo para frente e esbravejou: “Você ficou louco? Um mês inteiro de trabalho e você destruiu tudo!” E o amigo respondeu: “Eu destruí o seu quadro, mas salvei a sua vida”.

É a vida que precisamos preservar a qualquer custo, não o quadro.

Se o quadro que você está pintando para o seu ministério, para a sua família e para você mesmo o leva em direção à morte, é preciso destruir o quadro e preservar a vida.

A contemplação da obra pode distraí-lo do perigo na vida real. A obra é maravilhosa, mas a vida é espetacular. Prefira sempre a vida.

Como são sedutoras muitas carreiras diante de nós. Mas não hesite em ter por perto pessoas dispostas a desfazer a sedução para salvar a nossa vida. Se você não tem essa pessoa, ore e peça a Deus, que dará a você um Natã. Deus levantará um mentor à altura para estar ao seu lado; um mentor com coragem de estragar o seu quadro e resgatar a sua vida.

E esta é a minha oração:

Senhor, para cada um de nós, dá um Natã neste dia. Para cada um de nós, dá um Natã que chegue a tempo, antes que o pior aconteça.

Erga esse muro de proteção em torno da sua vida e mantenha alto o nível de resistência por meio da disciplina, da oração e da Palavra. E pratique essas coisas, aplique-se nelas de fato, pois o Diabo não respeita quem fala de oração: o Diabo respeita quem de fato ora.

Viva de acordo com um código de integridade.

Sugestão número 2: Desenvolva um código de integridade

Você tem um código de integridade? Se tem, então viva de acordo com ele.

O desenvolvimento de um código de integridade começa quando você se compromete com linhas mestras auto-impostas que lhe dão a sensação de controle moral sobre a própria vida. Esse esforço imprime e reforça a sua vontade pessoal ou seu modo de reagir quando as tentações surgirem.

Que tipos de linhas mestras podem ser cultivadas e auto-impostas?

Um exemplo é a criação de uma aliança com um companheiro de oração. Certa vez o pastor Jocimar Fonseca ligou para mim e disse:

“Estava no monte orando, o seu nome veio à minha mente e eu orei por você. Como está você? Como está a sua casa? E a sua família? Como vão as coisas no seu ministério? E o seu coração?”

E respondi a ele o seguinte:

“Já que você ligou pra mim, vamos fazer uma aliança? Vamos fazer uma parceria de oração?”.

Eu orei por ele, e ele fez uma bonita oração em meu favor. Selamos uma aliança de oração mútua.

Você precisa de um parceiro com o qual tenha uma aliança de oração, porque a oração é uma das principais linhas mestras da vida de todo homem e mulher de Deus.

Mas não é a única. Se você procura um código de integridade para seguir e pautar a sua vida eu sugiro que leia nos evangelhos, no evangelho de Mateus, por exemplo, o Sermão do Monte. Lá há várias cláusulas fundamentais que podem ser usadas para compor o seu código. O Sermão do Monte é um baú com tesouros que podem enriquecer a sua vida e a sua experiência com Deus. Use à vontade, retire de lá o que precisar. Não é a única fonte de riquezas para a nossa vida, evidentemente. Há outras porções das Escrituras de onde você pode retirar direcionamento seguro e saudável para a sua alma.

E não se esqueça: envolva pessoas no seu código. O isolamento é maligno e não ajudará você em nada. Às vezes nos encontramos com amigos, parceiros no ministério, e só falamos em projetos, planos, estratégias, dificuldades de avançar na obra e sobre tantas outras coisas. No entanto, nos esquecemos de perguntar: — Como vai a alma? Como vai o coração? Como vai o ministério? Como vai a chama dentro do teu peito? Ela está acesa?

Conclusão

“O único lugar aonde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.” Albert Einstein

Permitindo que o Sermão da Montanha aconselhasse o rei Davi, aprendemos que há uma necessidade premente de vigilância concentrada, organizada e comunitária. Um caráter consistente forma a base sobre a qual o serviço deve ser executado. Quanto mais talentoso, quanto mais famoso, melhor e mais firme deve ser a fundação do caráter. Em uma batalha, mais importante do que derrubar muitos inimigos, é permanecer forte para não dar trabalho aos companheiros e ainda continuar a combater. Portanto, vigie e proteja-se. O Rei Davi, valente, famoso, querido de Deus, ungido, músico, salmista e amigo de Deus deixou de vigiar enquanto tirava seu tempo de lazer.

Ele pecou grosseiramente, tentou consertar um erro com outro pior ainda e, mesmo sendo amigo de Deus (ou talvez, justamente por ser) colheu o fruto amargo do seu erro, trazendo sofrimento sobre sua família e seu reinado, que nunca mais foram os mesmos, depois da sua queda.

Para evitar tal desvio, você precisa vigiar, sondar, buscar e ficar muito atento ao que se passa na sua mente, nos seus pensamentos, tendo atenção dobrada para os momentos mais críticos de lazer e descanso, quando a tentação pode vir com mais força.

Todo bom sentinela sabe que há sinais que apontam para a presença ou chegada do inimigo, portanto, você precisa ficar ligado. Enfrente suas fraquezas de caráter com seriedade, nunca faça uso da mentira, fique atento às ações impulsivas e saiba que quando você usa os dons dados por Deus para proveito próprio, você corre um sério perigo.

Atenção para os sinais:

• Negligência com suas tarefas mais essenciais,

• Brincadeira com o pecado, patrocinadas pela autossuficiência soberba e enganosa.

• Falta de controle em pequenas atitudes, que apontam para um descontrole maior.

• Mentira, que passa a se apresentar, sempre que é necessário inventar uma desculpa para patrocinar o comportamento de risco, ou o pecado em si.

Diante deste diagnóstico, que aponta para a necessidade urgente da vigilância, aceite os conselhos para os candidatos a sabedoria. Você precisa descobrir o seu ponto fraco e vigiá-lo incansavelmente, ainda que precise da ajuda de um amigo, do cônjuge ou do seu tutor (talvez você precise dos três).

Não caia na armadilha dos extremos de ficar à toa, ocioso e se defrontar com o pecado e nem fique tão cansado ao ponto de perder o ânimo e a vontade de viver. Um extremo é o de se permitir e agradar a carne; o outro é levar a si mesmo para desfalecer sem descanso. Ambos devem ser evitados a qualquer custo.

Como o descanso é tão importante quanto o trabalho, descanse de tal maneira que você ainda seja edificado. Descubra o prazer em atividades nobres e elevadas. Se você perceber sentimentos muito intensos voltados a determinada tarefa ou pessoa, fique alarmado, pois pode ser uma paixão destrutiva e proibida. Fuja da fonte de tais sentimentos. Fuja mesmo, nada de achar que é forte. Se já está envolvido, de alguma forma, resolva pelas vias corretas da verdade e confissão, nunca acrescentando mais problemas ainda. Seja firme, confesse e enfrente as consequências enquanto a situação não ficou pior. Deus vai perdoar e quanto antes voltar atrás, menores serão as consequências ruins.

Não esconda de Deus o que Ele já sabe. Ao olhar-se no espelho, pergunte a si mesmo, qual recado deseja passar com suas roupas, qual mensagem você quer que os outros recebam. Seja sóbrio. Lembre-se de não permitir que o trabalho, o ministério, ou os estudos façam concorrência com a sua família, com o seu casamento. Este sustenta aquele e não vice versa. Não caia na armadilha do status e da popularidade, vigie seu coração contra a ganância.

Mesmo que você seja um líder de renome, um grande empresário, tenha um mentor com intimidade com Deus e coragem para alertá-lo. Deixe a porta aberta para aqueles que o ajudam, apontando seus erros e decida ter também um companheiro de oração, com quem você tenha mais abertura e possa caminhar junto.




Parte 4 
 
 1. …e conselhos aos sábios

“Ajuda o teu semelhante a levantar a carga, mas não a levá-la.” Pitágoras

Davi foi um exímio escritor. Escreveu cânticos que são conhecidos por salmos, e foi o autor mais produtivo neste estilo em todo o Antigo Testamento. Seus salmos têm sido lidos, cantados, orados e servido de base teológica, servido de inspiração e consolo para os aflitos da alma.

Os salmos fazem derramar a alma humana em forma de palavras, frases, expressões. Davi sabia muito bem lidar com essa ferramenta e sua matéria prima, a própria alma, atribulada muitas vezes, reflete as questões que incomodam homens há milhares de anos.

Seria diferente conosco? De modo algum. Os problemas vividos por Davi são os mesmos vividos por cada um de nós. Mas devemos prestar atenção a um detalhe que faz diferença: Davi é conhecido como o “homem segundo o coração de Deus”. Em outras palavras, embora sejamos todos pecadores, Davi, ainda assim, sempre voltava a sua atenção para Deus.

O pecado é um problema humano global, e esquecer-se de Deus é ainda um pecado mais grave. Davi não! Sua alma inclinou-se para Deus em cada momento dramático de sua vida e as lições que ele aprendeu foram deixadas nas páginas da Bíblia para servir-nos de exemplo. Por isso, vejamos quais são os conselhos que Davi nos daria depois de suas amargas experiências.

Conselho número 1:

“Não façam como eu. Tenham cuidado com o seu tempo livre.”

Quando um homem não sabe usar de forma adequada o tempo livre, o Diabo faz da sua mente uma grande oficina. Você já deve ter ouvido o conhecido ditado que diz: “Mente vazia, oficina do Diabo”.

Quando um líder não sabe usar de forma sábia o tempo livre, a sua mente corre o risco de se tornar um amplo terreno de Satanás, porque ele é inteligente e esperto para aproveitar-se do nosso descuido.

Existem dois extremos perigosos na vida do líder. O primeiro é a ociosidade destrutiva; o segundo é a exaustão crônica.

Os efeitos da ociosidade destrutiva nós já vimos na história de Davi, nos capítulos anteriores. Um líder nessa condição envolve-se em atividades que não são da sua competência, se intromete em questões alheias. Em outras palavras, “ele mete o bico onde não foi chamado” e passarinho que põe o bico em ninho estranho tem que dar comida a filhote que não gerou.

Por outro lado, um homem cronicamente exausto se torna presa fácil de seus hormônios. E não nos esqueçamos: ainda que sejamos espiritualmente maduros, os nossos hormônios não são convertidos… e podem nos trair.

Portanto, organize-se para aproveitar bem cada minuto de sua agenda. E muito cuidado com o tempo livre.

Conselho número 2:

“Enquanto espera ou descansa, ocupe-se com o que é construtivo e que faz você crescer.”

A diversão, o repouso, o lazer devem estar na agenda de todo líder. Ninguém é de ferro. Todos nós precisamos de tempo com qualidade para a família, para o lazer e para nós mesmos, individualmente.

O modo como iremos preencher esse tempo poderá determinar o bom aproveitamento dele ou a nossa própria degola. Enquanto você descansa ou se diverte com a família num dia qualquer, não permita que o Diabo faça da sua mente um laboratório para testes nucleares, colocando “pensamentos explosivos”, “bombásticos”.

Tome como exemplo Paulo. Como foi que Paulo ocupou o seu tempo quando esteve preso? Aparentemente teve uma tremenda oportunidade para viver ociosidade destrutiva. Por que, então, Paulo não se corrompeu? Por que não se perdeu em pensamentos vagos? Paulo se manteve aparentemente ocioso por dois anos, quando esteve preso. O que ele fez para “manter a linha”?

Ele foi capaz de ocupar-se com aquilo que era construtivo e fazia o seu espírito crescer e se fortalecer. Ele leu. Ele escreveu. Ele aconselhou. Ele cuidou das igrejas enviando cartas. Ele orou. E repetiu todas essas atividades durante todo o tempo.

Na carta que escreveu a Filemon ele disse: “Vocês pensam que eu estava lá, vivendo ociosamente? Destrutivamente? Não. Eu gerei Onésimo nas minhas algemas”. Isto é uma paráfrase minha, mas você pode conferir o texto original em Filemom 1.10.

Gente que se ocupa dessa maneira glorifica a Deus e guarda o seu coração contra o mal que tão de perto nos rodeia.

Um caso extraconjugal pode começar em míseros dez dias de férias na praia.

Um caso extraconjugal pode começar num churrasco trivial em final de semana.

Um caso extraconjugal pode começar em congresso de espiritualidade!

Seria muita ingenuidade pensar que o Diabo está cochilando na rede enquanto os cristãos cuidam das coisas do Senhor. Por que Jesus diria: “Vigia a tua alma”? Porque ela é o alvo predileto dos ataques que recebemos.

Todas as manhãs faça uma vistoria dentro de você, em seus pensamentos, nos seus planos, naquilo que tem ocupado a sua mente, e identifique se algo destrutivo tem se desenvolvido em sua alma, nos corredores do seu coração, durante os momentos ociosos que a sua imaginação elabora.

Conselho número 3:

“Cuidado com o poder destruidor de uma paixão proibida.”

Leia o que veio escrito em bilhete:

“Você estava lindo com aquele terno ontem, meu pastor.”

Este elogio não foi escrito por minha esposa e entregue a mim.

Essa frase, esse elogio, é uma semente. Concorda? Dependendo do solo onde ela é semeada, poderá dar frutos. Uma semente pode ser lançada por email, como “Seu perfume ontem estava irresistível, minha irmã.” Ou ainda por meio de mensagem via celular.

Expressões de admiração, apreciação e elogio não trazem em si quaisquer problemas. Que mal pode haver em dizer elogios a alguém bem vestido? É a expressão da verdade. Que mal pode haver em comentar o aroma agradável de um perfume? É a expressão da verdade. Mas palavras embutem valores e significados em diferentes contextos, em diferentes situações por diferentes pessoas. E essas situações são delineadas pela condição que o ouvinte e o falante se encontram. Mais que isso: é preciso considerar a presença e atuação do Diabo sobre essas mesmas situações e ocorrências. O mundo tem seu componente espiritual e oculto, e não seríamos suficientemente ingênuos em não contar com isso.

No momento parece apenas uma frase despretensiosa, sem maldade, mas o Diabo faz dela uma semente maligna e a planta na terra das nossas imaginações inclinadas para a queda.

E o Senhor viu que a maldade do homem na terra era grande e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era continuamente má. (Gênesis 6.5)

Quando Davi relacionou-se sexualmente com a mulher avistada a partir da janela de seu palácio, ela engravidou. Quando soube a novidade, ela mandou avisar a Davi que estava grávida, esperando, talvez, uma providência amistosa em seu favor. Não sabemos ao certo que reação ela procurou causar com a informação, mas sabemos a reação de Davi quando soube que seu caso secreto traria uma criança ao mundo.

E aqui eu chamo a atenção para o que ocorre ao homem dominado por paixão proibida. Parece não haver limites. Ele ficou desequilibrado ao saber do filho fora do casamento e imediatamente foi dominado por imaginação demoníaca. O rei mandou trazer Urias, o heteu, que lutava na guerra, a mesma guerra que Davi deveria estar presente. Urias era o marido legítimo da mulher. Davi serviu vinho a ele e lhe deu uma noite de folga, imaginando que ele teria relações com a esposa e, com isso, a paternidade do filho bastardo pudesse ser atribuída a ele.

Mas Urias não foi para casa, não deitou e não se relacionou com a esposa. Nos tempos de guerra, a agenda de Urias tem os dias comprometidos com o dever de soldado. Ele pensou nos seus irmãos e não se viu envolvido em prazeres pessoais enquanto os soldados do seu exército estivessem matando e morrendo. Dispensado por Davi, Urias não só não foi para casa, como sequer saiu do palácio. Dormiu à porta do rei.

De seu lado, Davi afundou-se mais e mais na perversidade oculta em seu coração. Ele, então, planejou eliminar Urias. Escreveu um bilhete e enviou a Joabe, comandante do seu exército:

Posicionai Urias na linha de frente, onde a batalha for mais feroz, e deixai-o sozinho para que seja ferido e morra. (2Samuel 11.15)

Você sabe a história. A carta foi enviada para Joabe e o portador foi o próprio Urias, o sentenciado de morte pelo rei. Foi muita maldade. Eu não estou falando de qualquer homem; estou falando de Davi. Há pouco escrevi que ele é conhecido como “homem segundo – ou conforme – o coração de Deus”. Quem você conhece com o mesmo adjetivo?

Se isso aconteceu a Davi, poderá acontecer conosco? Estamos protegidos contra cenas como essas? Adultério, homicídio? O coração do homem é uma caixa de surpresas.

Davi tinha cinquenta anos de idade, homem maduro, vivia o melhor momento de sua vida, no reino, no campo de batalha, na vida espiritual. Havia conquistado mais que os seus sonhos jamais conceberam. Mas ocupou mal o seu tempo e envolveu-se numa paixão que não era da sua conta.

Qual é o momento do seu ministério? Como está a sua guarda? Você tem vigiando a alma?

O melhor momento para vencer a tentação é no início e usando toda a força disponível. Não pense que maturidade é garantia de livramento. Não pense que por estar há muito tem pó na Igreja, você está isento às tentações. Tempo de casa só é bom para quem tem Fundo de Garantia a receber. E há gente com muito tempo de casa sendo mandado embora por justa causa porque caiu prostrado diante de uma paixão proibida.

Conselho número 4:

“Nunca tente resolver um problema por vias erradas. Você criará maiores problemas.”

Quero ser mais incisivo neste ponto.

Davi tinha um problema grave e tentou resolvê-lo criando problema ainda maior. Mandar matar o companheiro inocente não foi a decisão certa. Vemos cenário parecido em Gênesis capítulo 4, que fala de Caim levando Abel ao campo para assassiná-lo (v. 8). Caim derramou sangue inocente na terra. E mais para frente a Palavra diz:

Quando cultivares a terra, ela não te dará mais sua força; serás fugitivo e vagarás pela terra. (Gênesis 4.12)

Deus não se referia a terra em sentido literal. Ele falava da vida, do coração, do ministério e até mesmo do relacionamento com o seu semelhante. Quem assassina companheiros não consegue extrair o melhor fruto do seu trabalho. O vigor do seu esforço é fraco se comparado ao que poderia ser se promovesse vida em vez de morte.

Eu digo isso, porque há líderes promovendo morte em seu ministério. Disputas internas (e externas) por poder, por influência, por alianças derramam sangue que enfraquece e inibe o crescimento e a prosperidade. O dia que lançarem sementes, essa terra não produzirá porque foi regada com sangue e Deus não tem compromisso de prosperidade na terra de quem derrama sangue inocente: refiro-me ao ministério.

T. D. Jakes fez uma afirmação que guardo para o resto da vida:

Se não gostas do que estás colhendo, olha para trás e veja o que foi plantado.

Davi semeou dois tipos de sementes malignas: a do adultério e a do homicídio. Qual foi a sua colheita? Basta olhar 2Samuel 13. Amnon, filho de Davi, apaixonou-se por Tamar, sua irmã, e a estuprou: a colheita foi um incesto em sua própria casa. Absalão, outro filho de Davi, se revoltou com a indiferença do pai ao tratar o problema, e assassinou Amnon. Se você seguir lendo a Bíblia verá no capítulo 15 do mesmo livro que o próprio Absalão rebelou-se politicamente contra Davi e foi morto por Joabe.

É preciso levar a sério essa infalível lei da semeadura no exercício da liderança. Não tente resolver problemas, pequenos ou grandes, acrescentando mais problemas à situação. Procure o caminho certo e tome as medidas certas para que as coisas se encaminhem favoravelmente. Acabe de uma vez por todas com arremedos, com “jeitinhos”, com acobertamento de pecados e com o acréscimo de pecado sobre pecado. Rompa de uma vez por todas com o ciclo que destrói e mata em vez de promover edificação e vida!

Lembro-me de um irmão que foi ordenado ao diaconato. Ele trabalhou seis meses nessa função e de repente precisou de dinheiro. Alguém o aconselhou a processar a igreja reivindicando R$ 20.000,00 de indenização pelos serviços de diácono.

O pastor líder foi até ele e pediu que não levasse o caso adiante, explicando que a igreja tinha pouquíssimos recursos. O diácono não deu ouvidos ao antigo líder.

Depois de muita negociação, a igreja conseguiu acordo para pagar 20 prestações de R$ 350,00.

Agora veja a colheita real que o diácono levou “de brinde”, porque com o dinheiro “da oferta da viúva” não se brinca. O irmão começou a receber todo mês a quantia combinada. De repente a esposa foi diagnosticada com câncer. Chamaram o pastor líder para orar, e ele disse: “Eu não coloco a minha mão onde Deus colocou a mão dele para tratamento.”

Passou dois meses e a filha foi estuprada. Passaram alguns meses, ele perdeu a razão e ficou louco, sendo internado em hospital psiquiátrico. A família daquele homem foi dizimada.

A esposa morreu de câncer, ele foi para um hospital de loucos e a filha carregou o trauma de um estupro. A família acabou tal qual a de Davi.

O que o profeta Natã disse o rei?

Pois tu o fizeste em segredo, mas eu farei o que disse perante todo o Israel e à luz do dia. Então Davi disse a Natã: Pequei contra o SENHOR. Natã respondeu a Davi: Também o Senhor perdoou o teu pecado, por isso, não morrerás. (2Samuel 12.12,13)

Em outras palavras, a graça de Deus não cancela a colheita feita por ninguém, nem mesmo do homem segundo o coração de Deus. A graça de Deus preserva o plantio e todos nós colhemos o fruto segundo a semente que lançamos na terra, seja essa terra o nosso ministério, seja a nossa família, seja aonde for.

Conselho número 5:

“Nunca tente esconder do cônjuge aquilo que está diante dos olhos do Senhor.”

Devo supor que cada cristão esteja consciente de que Deus vê tudo.

Os olhos do Senhor estão em todo lugar, vigiando os maus e os bons. (Provérbios 15.3)

A tentativa de Davi de esconder o seu pecado foi bastante inocente. O pecado cheira mal diante de Deus e esse mal cheiro não pode persistir: Deus recorreu ao seu profeta. Sabe quando Deus levanta profetas? Quando o sacerdote não ensina o povo e quando o rei não é reto diante de Deus. O recurso do Pai para não ficar sem testemunho na terra é o profeta. Então Deus revelou o caso a Natã.

Mas ainda temos a cena do crime preservada, e Davi pensa que pode pagar dívida de pecado com cartão de crédito de boas obras. Não pode. Esse é o pensamento típico das armadilhas do poder. Em nossos dias há líderes repetindo o erro, racionalizando o próprio pecado. Eles dizem: “Eu já jejuei muito, eu já preguei muito, eu já ganhei muitas almas para Deus e, portanto, tenho crédito lá em cima para dar uma ‘pecadinha’.”

Nem mesmo Davi, o homem segundo o coração de Deus, teve crédito para encobrir o seu pecado. O pecado, qualquer que seja, dá legalidade a Satanás e afasta você de Deus. “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3.23), é o que ensinou o apóstolo Paulo. E quanto a Davi, a Bíblia é explícita:

Mas, visto que com esse ato deste motivo para que os inimigos do Senhor blasfemassem, o filho que te nasceu certamente morrerá. (2Samuel 12.14)

Enumerei os erros de Davi. Mas a situação não aponta os canhões somente para o seu lado.

Bate-Seba também tem parcela de culpa e ensina sobre as intensões da alma humana, especialmente a feminina. Vocês acham que Bate-Seba era inocente? Não era. Todo pecado – e no caso o pecado de adultério – é um processo que envolve dois lados.

Em primeiro lugar, não creio que tudo tenha acontecido em um dia. O caso era muito sério, tratava-se de Davi, o grande herói do povo, o rei exemplar ungido de Deus! E um dia não é suficiente para um envolvimento tão intenso como esse. Um dia não é suficiente para cegar o homem desse jeito.

E aí eu pergunto: – Por que ela tomava banho em lugar onde podia ser observada pelo rei? Ela não tinha outro lugar para fazer isso? Você já deve ter feito essa pergunta. E vale uma advertência séria para as mulheres, especialmente as que estão em posição de destaque, à frente de algum trabalho ou de algum grupo: – A maneira como você se veste revela a intenção do teu coração e as tendências da tua alma.

Veja o que temos em Provérbios 7.6-23:

Porque da janela da minha casa, por minhas grades, olhando eu, vi entre os simples, descobri entre os jovens um que era carente de juízo, que ia e vinha pela rua junto à esquina da mulher estranha e seguia o caminho da sua casa, à tarde do dia, no crepúsculo, na escuridão da noite, nas trevas. Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta e astuta de coração. É apaixonada e inquieta, cujos pés não param em casa; ora está nas ruas, ora, nas praças, espreitando por todos os cantos. Aproximou-se dele, e o beijou, e de cara impudente [sem juízo, sem vergonha] lhe disse: Sacrifícios pacíficos tinha eu de oferecer [era crente, cultuava]; paguei hoje os meus votos. Por isso, saí ao teu encontro a procurar-te, e te achei. Já cobri de colchas a minha cama, de linho fino do Egito, de várias cores; já perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo. Vem, embriaguemo-nos com as delícias do amor, pela manhã; gozemos amores. Porque o meu marido não está em casa [era casada, ela tinha em casa um Urias], saiu de viagem para longe. Levou consigo um saquitel de dinheiro; por volta da lua cheia ele tornará para casa. Seduziu-o com as suas muitas palavras, com as lisonjas dos seus lábios o arrastou. E ele num instante a segue, como o boi que vai ao matadouro; como o cervo que corre para a rede, até que a flecha lhe atravesse o coração; como a ave que se apressa para o laço, sem saber que isto lhe custará a vida”. (acréscimos feitos por mim)

Minha irmã e meu irmão: saiba que esse texto quebra laços neste exato momento. Esse texto é muito forte e revelador, alcança o ponto mais íntimo da nossa alma e desfaz a obra do Diabo. Cabe a cada um de nós, agora, vigiar sobre os lugares que frequentamos, a posição para onde nos deslocamos, o lugar onde nos sentamos e mais, a impressão que a maneira de nos vestir irá causar. Seja consciente na hora de escolher o seu estilo e pense sobre a mensagem que o seu estilo irá transmitir.

Bem, já vimos os erros de Davi e também os de Bate-Seba. Agora vamos nos deter um tempo nos erros cometidos por Urias. Esta passagem também nos ensina muito, especialmente aos maridos.

Então Davi mandou dizer a Joabe: Traze-me Urias, o heteu. E Joabe o enviou a Davi. Urias veio a Davi, este lhe perguntou como estavam Joabe e o exército e como ia a guerra. Depois Davi disse a Urias: Vai para a tua casa e procura descansar. E, assim que Urias saiu do palácio real, foi-lhe mandado um presente do rei. Mas Urias dormiu à porta do palácio real, com todos os servos do seu senhor, e não foi para casa. Então contaram a Davi: Urias não foi para casa. E Davi perguntou a Urias: Não chegaste de uma viagem? Por que não foste para casa? Urias respondeu a Davi: A arca, as tropas de Israel e de Judá estão em tendas; Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados ao relento. Como eu iria para casa comer e beber e me deitar com minha mulher? Por tua vida e por tua honra, não farei isso. Então Davi disse a Urias: Fica ainda hoje aqui, e amanhã te despedirei. Assim, Urias ficou em Jerusalém aquele dia e o seguinte. Davi o convidou a comer e a beber com ele e o embebedou; e à tarde Urias saiu e foi deitar-se na sua maca, onde estavam os servos de seu senhor, mas não foi para a sua casa. (2Samuel 11.6-13)

A intensão de Davi ao mandar Urias para casa era maligna, mas o princípio que Urias deveria ter preservado era legítimo. Ele estava há quarenta dias na guerra, portanto, fora de casa. Chegando à cidade, deveria ir para a sua casa encontrar-se com sua esposa. No entanto o versículo 9 diz que ele “não desceu para sua casa”. E alegou fidelidade aos companheiros na guerra e a presença da arca no arraial dos soldados.

Urias não foi para casa. É interessante notar como ele está preocupado com a arca, com Israel, com Joabe, com os amigos de trabalho e em momento algum ele menciona a sua mulher e os filhos, se é que os tinha. Ele estava preocupado com a arca, ele estava preocupado com o chefe Joabe, ele estava preocupado com a nação inteira, com os companheiros de trabalho, mas em nenhum momento ele se mostra preocupado com sua esposa, com sua família, com sua vida pessoal que era igualmente importante.

Há coisas em nossas vidas que não podem concorrer entre si. Ministério não pode concorrer com casamento. Se não há tempo suficiente para uma atividade importante, diminua o tempo gasto com outra atividade para a qual você se dedica mais. Uma atividade está roubando tempo da outra; há desequilíbrio.

Francamente, é preciso saber separar as coisas. Admiramos que um homem seja fiel ao Senhor, submisso ao seu líder e solidário aos parceiros do ministério. Esperamos ter milhares de homens assim ao nosso lado. No entanto, há uma ordem estabelecida na economia de Deus. E essa ordem precisa ser preservada para que todas as demais áreas de nossas vidas prosperem equilibradamente, sendo igualmente preservadas. A ordem estabelecida por Deus é:

1º Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo

2º A nossa esposa e, se tivermos filhos, a nossa família

3º O nosso trabalho, que provê sustendo para a nossa família e gera recursos para a próxima prioridade que é

4º A obra de Deus.

Essa é a ordem ideal para que as coisas funcionem sem sobressaltos. Inverta essa ordem e espere problemas, certamente. E foi isso o que Urias fez: inverteu a ordem estabelecida para o bom funcionamento das coisas. Qual foi a colheita que ele precisou amargar? Uma traição – porque não supriu a necessidade conjugal da sua esposa – e a própria morte – por alterar a ordem estabelecida.

Urias “criou” uma nova categoria – a sua religiosidade ritual (“a arca”) – e a pôs no lugar de Deus, que deve ser mantido no primeiro lugar. E depois inverteu o terceiro lugar (o trabalho), colocando-o no lugar da família. Os valores de Urias estavam desequilibrados, desalinhados dos valores de Deus. E quando os nossos valores não são os valores de Deus, quando conduzimos nossas vidas pela força da natureza humana e carnal, cometemos pecado. Como o pecado tem um salário já acertado – a morte – Urias recebeu a paga por sua inversão de valores. (Ele foi injustamente assassinado! Ele sofreu pelo pecado de outro, embora não estivesse com suas prioridades alinhadas. Não concordo com esta frase) – Minha sugestão:

“Urias foi ferido injustamente pelo pecado de outro, do rei Davi e a brecha para que este golpe o atingisse foi sua inversão de valores”

Vamos imaginar que Urias fosse para casa e tivesse relações com sua esposa. A ele seria atribuída a paternidade do filho, e talvez ele viesse a descobrir a traição, supondo também que Bate-Seba não suportasse conviver com a mentira e ocultação daquela traição e depois de um tempo contasse a Urias a sua aventura sexual extra-conjugal. Eles poderiam discutir severamente, mas no fim ele consideraria rever seus valores, suas prioridades e passassem a uma nova fase no seu casamento. Crentes no Senhor precisam aprender a conviver com o perdão, pois nem mesmo a infidelidade deve ser usada como razão para separação se houver disposição para o perdão. Deus é poderoso para curar feridas e fazer novas todas as coisas.

Urias permaneceria vivo, corrigiria o seu comportamento desequilibrado e poderiam ser felizes novamente. O perdão que cabe a homens de fé está implícito nesse quadro que pintei. Veja como tudo seria diferente se Urias colocasse as coisas nos devidos lugares.

Sabe qual é o nosso problema? Superestimamos o nosso valor. Pensamos que o nosso valor individual é maior que o nosso valor coletivo. Pensamos que aquilo que fazemos sozinhos vale mais que o que fazemos no grupo: no ministério, na família, na comunidade. Imaginamos (erradamente) que as coisas simples da vida têm menos valor que aquelas que aparecem mais aos olhos dos outros, que dão mais status.

Não despreze os dias das coisas pequenas. (Zacarias 4.10)

A vida de cada um de nós é formada por atividades diferentes com valores e pesos diversos. Por isso, precisamos desvendar o valor que cabe a cada uma das nossas atividades e fazer o investimento adequado para que haja equilíbrio em toda a nossa vida.

A Deus, a parte que cabe a Deus. A família, a parte que cabe à família. E assim com tudo o que nos envolve, sem desprezar as atividades aparentemente simples que contribuem para fazer de nós quem somos.

Quero finalizar este capítulo chamando a sua atenção para o principal valor na vida de um líder: a vida. Quando se trata de vidas, todos devemos nos submeter a ela. Seja quem for, ocupe o cargo que ocupar, não importam as credenciais: a vida está em primeiro lugar.

Joabe errou. Ele associou-se a Davi para a morte de um homem. Joabe não sabia a circunstância do pecado nem as motivações do rei para desejar a morte de Urias; isto somente agrava a culpa de Joabe, porque ele não questionou as razões pelas quais deveria criar uma estratégia que resultasse na morte de uma de seus soldados.

Joabe cumpriu ordem absurda, sem questionar. Não é porque a patente de Joabe era inferior a do rei que ele deveria obediência à ordem estúpida. Há vida em jogo e os interesses da vida estão acima de qualquer patente, de qualquer posição ou cargo.

A submissão não é incondicional diante da preservação da vida. Se fosse, Misael, Ananias e Azarias teriam se prostrado diante da estátua do rei Nabucodonosor na Babilônia. Se fosse, a mãe de Moisés teria abortado (lançado ao rio?) o filho Moisés em obediência à ordem do faraó.

Quando a vida corre risco, opte pela vida em detrimento da obediência cega e incondicional. E nós, líderes, lidamos e lideramos vidas o tempo todo: a ela devemos nossa submissão, pois esse foi o exemplo deixado pelo Senhor Jesus, que desejando que tivéssemos vida, esvaziou-se a si mesmo e “não considerou o fato de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar” (Filipenses 2.6).
 





Parte 03
  1. Sinais do perigo…

“O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.” F. Nietzsche

Vivemos na chamada era da informação. Dobramos os nossos conhecimentos nos últimos anos. Sabemos sobre tudo! Em nossos dias é difícil alguém justificar erros com base em falta de informação. Quem pode desculpar-se por contrair o vírus da Aids? Há campanhas e mais campanhas sobre a prevenção dessa doença. Quem pode dizer não saber que o cigarro causa câncer na garganta e nos pulmões? O Governo investe muito dinheiro para advertir a população sobre esses riscos. Quem pode dizer não saber que álcool e direção não combinam?

O mesmo acontece no mundo espiritual com as coisas de Deus. Quem pode alegar desconhecimento da vontade de Deus para a sua vida? Está na Bíblia o que Deus requer de todo homem e de toda mulher. E quem não tem uma Bíblia? A verdade é que muitos de nós temos várias Bíblias em casa; basta tomá-la e ler o que Deus inspirou os antigos a escreverem sobre qualquer assunto. Está escrito nela; não precisa ser profeta nem apóstolo para saber a vontade de Deus. Nem no passado, nos tempos de Davi ou dos juízes de Israel. Moisés já havia escrito a Torah, que contém os mandamentos do Senhor para o povo de Israel. Já naqueles tempos um homem sabia o que Deus requeria de seu povo.

E hoje sabemos mais sobre as coisas de Deus, porque reunimos Antigo e Novo Testamentos e com eles as experiências de cerca de quarenta homens que escreveram as Escrituras.

Assim, quando falamos sobre os sinais dos perigos que homens de Deus enfrentam, estamos falando exatamente sobre o quê? Quais são os sinais que indicam que líderes estão em perigo? Vou tomar como exemplo Sansão que aparece no livro dos Juízes, à partir do capítulo 13.

Sinal número 1:

Líderes em perigo deixam de enfrentar sinais claros de fraqueza de caráter.

Mike Murdock, certa vez, disse:

Aquilo que você não domina, lá na frente irá destruí-lo.

Aquilo que Sansão não conseguiu dominar o destruiu. Dalila cercou Sansão algumas vezes na tentativa de desvendar o segredo de sua força. O que ele fez? Brincou com a situação. Todas as vezes que negligenciamos as circunstâncias que oferecem perigo, diminuímos as proteções pessoais contra a queda. Lembra-se de que falamos sobre a negligência de Davi? E o que é negligência, senão descuido na execução de algo e menosprezo?

Sansão menosprezou os sinais e esses sinais revelaram as falhas do seu caráter. Ele queria o prazer do risco e menosprezou o bem estar com o Pai. A maior inclinação do seu caráter pendia para aventuras eróticas e ele não reparou os sinais dessa fraqueza.

Cabe aqui uma nota sobre o significado de uma palavra que aparece na Bíblia. Sabe o que significa a palavra tentar? Tentar significa relevar a fraqueza. Quando o Diabo tenta alguém, ele não toma a pessoa à força e a leva ao pecado, não! Ele revela a essa pessoa a fraqueza dela. E o Diabo sabe quais são as nossas fraquezas? Sim, tanto é que ele nos tenta naquilo que temos maior fragilidade. Ele nos cerca com ofertas atraentes, com cenários deslumbrantes, com circunstâncias sedutoras. Mas o Senhor, por meio do seu Espírito, pode abrir os nossos olhos espirituais para discernirmos os sinais e fugirmos da tentação.

Sinal número 2:

Líderes em perigo inclinam-se à mentira para preservarem a si mesmos.

Sansão mentiu para Dalila nas primeiras vezes que ela perguntou sobre a fonte da sua força espantosa. Ele era o homem de Deus que libertaria o povo judeu da opressão sob os filisteus, e cercou-se de mentira em vez de cortar o mal pela raiz.

Quando uma pessoa flerta com o erro, é comum usar a mentira para se proteger. O prazer obtido no erro está no centro da vontade dessa pessoa e a mentira será usada como escudo para preservar esse erro que supostamente dará prazer. Isso é uma construção realizada numa alma inclinada ao pecado. Primeiro pensa o erro, depois deseja o erro, em seguida planeja como obtê-lo ou realizá-lo e tece uma colcha de retalhos com mentiras de todo tipo para proteger o seu plano:

— mentiras comerciais

— mentiras emergenciais

— mentiras ministeriais.

Há um tempo eu estava pregando e tive uma experiência com o Espírito Santo. Eu falava sobre justiça, sobre verdade, sobre transparência, sobre autenticidade, e durante uma pausa para respirar o Espírito Santo tocou em algo pessoal. Eu falava sobre verdade, mas ostentava uma mentira em meu braço. Naquele dia eu usava um relógio que era uma réplica de Rolex. Não era original, verdadeiro; era uma mentira.

Quando precisamos de mentiras para construir ou preservar nossa imagem, está caracterizado o sinal do perigo que um líder corre. Elimine o menor risco antes que ele se torne o seu maior problema. Eu, por exemplo, se tivesse antecipado ao perigo, não teria sido confrontado pelo Espírito Santo justamente em meio a uma pregação.

Sinal número 3:

Líderes em perigo agem impulsivamente.

O Senhor criou e estabeleceu princípios para todos os seus filhos. Um desses princípios é que devemos ter controle sobre nossos impulsos. Paulo chama isso de “domínio próprio”:

Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, amabilidade e domínio próprio. Contra essas coisas não existe lei. (Gálatas 5.22,23)

Tiago em sua carta fala que dominar o sistema da fala é o melhor modo de exercitar-se para ter domínio sobre todo o corpo:

Todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, esse homem é perfeito e capaz de refrear também seu corpo inteiro. (Tiago 3.2)

Assim, se esses princípios valem para todo cristão, desde quando ainda são bebês na fé, que dirá para o líder, que pela vocação deve demonstrar maturidade, experiência e muitas virtudes que se esperam de pessoas assim? O líder, todos eles, precisam, inegociavelmente, dominar seus impulsos. Precisam dominar e controlar o que irão falar, o que irão decidir, o que irão fazer. Não podem agir mediante o que lhe veem à mente, porque há coisas na vida de um líder que causam danos irremediáveis.

Veja as consequências do pecado de Davi; veja as consequências do descuido de Sansão. Sansão não considerou o plano de Deus para ele, que deveria proteger o seu povo contra os filisteus. Sansão permitiu que o impulso sexual dominasse suas decisões em vez de ele dominar esses impulsos. O líder precisa exercer domínio próprio sobre o seu corpo, sobre sua mente, sobre suas emoções.

O brasão do Estado de São Paulo tem um lema muito interessante escrito em latim. Diz assim: Non dvcor dvco, que significa Não sou conduzido, conduzo. Assim deve ser o líder em relação aos seus impulsos. Ele não pode ser conduzido, mas deve conduzir o seu homem interior para o centro da vontade de Deus.

Sinal número 4:

Líderes em perigo fazem mal uso dos dons dados por Deus.

Por vezes Sansão usou os seus dons em brincadeiras para o seu próprio deleite. O que deveria ser aplicado em benefício público, ele usou para satisfazer sua vida privada. Líderes responsáveis sabem separar as coisas, seja na política, seja nos negócios, seja na obra de Deus.

Líderes em perigo utilizam os dons recebidos na manipulação de pessoas para tirar proveito pessoal. Deus dá dons aos homens para que sejam usados em favor da Igreja, em favor do povo, até mesmo em favor dos incrédulos, para que esses cheguem ao conhecimento da salvação. Infelizmente há quem aplique o seu dom em alguma atividade cujo retorno nada tem de proveitoso para a coletividade, para os irmãos.

O Senhor não levanta gurus nem mágicos evangélicos. O Senhor levanta homens e mulheres de Deus. E Sansão brincou com o dom que Deus lhe conferiu. Foi uma questão de tempo para que o espírito de Dalila o derrubasse.

Sinal número 5:

Líderes em perigo são derrotados por causa de um ponto fraco.

A consequência comum aos sinais anteriores é a derrota. Afrouxa aqui, dá liberdades a mais ali, relevam uma fraqueza acolá e finalmente são derrubados. E a sua ruína é grande. Líderes que dão liberdade total aos seus pecados terminam consumidos por eles. E devo dizer uma verdade que constrange a alguns: de todos os líderes, tomando até os que recebem maior destaque, os mais imitados e dinâmicos, não há um único que seja bom em tudo; todos nós temos um ponto fraco “de estimação”.

E esse é o sinal para quem pensa ser forte: descubra o seu ponto fraco, pois você o tem, e vigie-o incansavelmente, noite e dia. Quando descobrir – se é que já não saiba – coloque-o sob a proteção do sangue do Cordeiro, do poder do Espírito Santo e da Palavra de Deus.

Os olhos são as portas de entrada para o território da tentação. O Diabo sempre irá apelar para a concupiscência dos olhos. Com Eva foi assim, com Davi do mesmo modo.

O que determina meus pensamentos é o que vejo, e o que penso determina as minhas ações. Eu vejo, por isso penso e assim ajo.

Esse é o motivo pelo qual vemos, tanto no Antigo como no Novo Testamento, textos orientando os cristãos em todo o mundo para povoarem seus pensamentos com coisas aprovadas.

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Filipenses 4.8)

Quando cercamos nossa alma com a blindagem dos bons pensamentos, protegemos nossa integridade contra as investidas do pecado. E não há alternativa; não insista, não pague para ver; não creia que você é tão destacado e competente ao ponto de não ser vítima dessas armadilhas, porque se assim o fizer, será derrotado como muitos foram.

O Senhor é bondoso de modo como nós não podemos imaginar. Graças a Deus que capacitou a cada um de nós com dispositivos que percebem a aproximação do perigo. O nosso espírito e a nossa alma são sensíveis aos sinais que indicam o perigo nos rondando. Quando permanecemos próximos ao Senhor, por meio de uma vida de oração, de consagração, despimos as nossas vestes humanas e imundas para recebermos as armaduras de Deus para a luta espiritual, travada incessantemente em nosso redor.

Assim, meu conselho é que você permaneça em alerta, seja vivo! Preste atenção aos sinais e proteja-se deles, pois a sua alma, a sua vida, a sua reputação, família e ministério valem muito mais que um raro momento de prazer.

Esse não é o único conselho que você pode extrair da história. Agora quero permitir que o próprio Davi dê conselhos à partir da sua experiência. É o que veremos no próximo capítulo.






 Parte 02
1. De quem estamos falando?

“A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus.” Pitágoras

Todos nós conhecemos, ao menos superficialmente, algumas passagens da história de Davi. As histórias envolvendo Davi são consideradas por muitos de nós como as histórias mais emocionantes da Bíblia. Elas são tão vibrantes e têm tantos detalhes que tocam as nossas almas. Seus salmos são inconfundíveis e neles encontramos o derramamento sincero da alma humana, naquilo que lhe é mais íntimo e precioso.

Davi, na galeria dos heróis, foi tão grande que sessenta e dois capítulos da Bíblia foram dedicados a sua biografia. Nenhum outro homem ocupa espaço tão vasto nas Escrituras. Há nada menos que 59 referências do Novo Testamento chamando a atenção das pessoas para esse homem. Isso é mais do que qualquer outro personagem bíblico.

No capítulo 11 do segundo livro de Samuel, Davi não estava com 20 anos de idade, não estava com 30 anos de idade, não estava com 40 anos de idade. Davi contava 50 anos de idade àquela altura. E na sua idade ele vivia o período das maiores conquistas. Lembremo-nos que ele era rei e uma das atribuições do rei era semelhante ao que hoje conhecemos por militar. Ele era o comandante ou general dos exércitos de Israel.

Aquele homem vivia o momento áureo de sua carreira. Era também o ápice do seu próprio reino, quando ele podia celebrar suas maiores vitórias. E eu repito o que estou dizendo já há alguns anos no meu ministério: “o sucesso é um terreno minado”.

Mas de repente parece ter ocorrido um “apagão” na cabeça de Davi e ele enviou para a guerra a Joabe, um dos militares do seu exército, homem de sua confiança. Na verdade a Bíblia diz que aquela era uma ocasião de guerra (2Samuel 11.1) e não há qualquer irregularidade nisso, senão no fato de Davi transferir responsabilidades que eram suas. Ele, então, resolveu ficar em casa, em Jerusalém, no seu palácio.

Numa tarde o rei saiu à janela e contemplou a cena imediatamente à sua frente (v. 3). Uma bela mulher tomando banho. Toda a história de sua vida assumiu novo rumo a partir daquele momento. Mas…

… todo aquele que olhar com desejo para uma mulher já cometeu adultério com ela no coração. (Mateus 5.28)

O primeiro texto, que abre este livro é Mateus 26.41, onde Jesus diz: “Vigiai…”. Vigiar não é uma ação a ser feita exclusivamente. Jesus coloca o mandamento para vigiar antes do mandamento para orar. “Vigiai e orai”.

O que devemos vigiar? As circunstâncias? Não. Devemos vigiar o quê? O Diabo? Também não. Devemos vigiar a vida das pessoas à nossa volta? Não, também. Se não é para vigiar as circunstâncias… Se não é para vigiar o Diabo… Se não é para vigiar as pessoas… Então o que devemos vigiar? Vigie os movimentos e insinuações da sua alma. Olhe para dentro de você, porque é da alma, do coração que procedem todas as saídas da vida de um homem e de uma mulher.

Há uma série de textos bíblicos que podem ser usados para amparar o que estou afirmando. Está claro que para Jesus isso funciona deste modo, pois ele mesmo o disse.

Permita-me reforçar a ideia com versículo. O próprio Jesus disse:

Todas essas coisas más procedem de dentro do homem e o tornam impuro. (Marcos 7.23)

Note a verdade que é comum às duas passagens: o mal não está fora do homem; ele nasce no e brota do seu próprio coração. Por isso estou afirmando a você que vigie a sua alma, a sede dos desejos do seu coração. É lá que residem os laços e embaraços que podem desvirtuar e desorientar um homem e uma mulher que ainda estão no caminho e na direção certas.

Davi vivia o melhor momento das conquistas militares para o seu reino em Israel. Mas não pense que isso era pouca coisa. Lembre-se da história dele. Ele era o menor da casa de seu pai; depois foi à guerra e venceu um gigante, o Golias, diante de centenas de soldados experientes. Aí ele foi aclamado e depois ungido a rei; por conta disso, Saul o perseguiu implacavelmente. Ele refugiou-se entre os filisteus, inimigos de Israel. Davi organizou um exército de vagabundos. Só depois de muito tempo subiu ao poder, e ainda assim era poder parcial. Ele não iniciou seu reinado como unanimidade. Primeiro reinou sobre a parte sul do país e mais tarde, depois de sete anos, unificou todas as tribos.

Quando tudo se estabilizou, o povo aceitou a sua liderança, o exército estava avançando, ele estava no centro da vontade e dos projetos de Deus para a sua vida… entrou um cisco no seu olho espiritual. Que coisa maligna era essa?

Diante disso, eu pergunto:

— O que leva um homem que vive o seu melhor momento de conquistas a deixar as atividades normais, triviais de sua vida e dar-se a uma prática ociosa e malignamente destrutiva?

Será que o fato de Davi ter ficado em casa enquanto todos estavam na guerra não indica problema na sua alma? Quando estudamos sobre a liderança em nossos dias, nos deparamos com o tema da delegação de autoridade. Não se pode concentrar em uma só pessoa toda a autoridade pela obra do Senhor nem todas as tarefas e atividades. Essa verdade não é nova; desde Jetro, sogro de Moisés, esse princípio tem sido aplicado.

No entanto, quando transferimos a outros aquilo que é nosso dever, mesmo depois de ter partilhado as tarefas, as atividades e as responsabilidades, estamos numa situação de negligência. Isso não é delegação de poder, nem divisão de tarefas: é negligência. Transferir a nossa responsabilidade a outros sem motivo justo é negligência. E sabe o que significa negligência? Descuido na execução de algo; menosprezo.

Davi menosprezou aquilo que Deus havia preparado para ele, aquilo para o qual Deus o havia preparado e aquilo pelo qual o povo esperava que ele se ocupasse. Total menosprezo.

Há nisso uma aplicação para nós no século 21. Preocupa-me quando vejo pastores transferindo a responsabilidade da pregação e ensino em suas igrejas; quando vejo pastores transferindo a responsabilidade do aconselhamento e cuidado do rebanho; quando vejo pastores transferindo a responsabilidade das visitas aos lares que formam suas igrejas. Ou, nas igrejas onde vou pregar, quando vejo o pastor afastar-se do púlpito, transferir a responsabilidade e ir para o seu gabinete… ir para a varanda onde ele pode avistar cenas agradáveis, mas que não são cenas que Deus tem preparado para que ele veja.

Esses indicadores gritam aos nossos ouvidos dizendo que há algo errado com a alma desses líderes e irmãos. A alma deles está desajustada, desalinhada da vontade de Deus. Eles não percebem isso, e são capazes até mesmo de justificar o seu afastamento e ausência.

Pastores, a varanda e a janela não são lugares indicados para vocês estarem. O comandante Davi perdeu a batalha sem sair do seu palácio; bastou-lhe ir à varanda espiar uma cena diferente. Isso diz algo para você? Isso se encaixa em alguma situação vivida atualmente?

A Bíblia diz que foi da varanda que tudo começou a precipitar na vida de Davi. À tarde, levantou-se Davi do seu leito, espreguiçou-se e deve ter pensado: “Deixe-me ver como está o dia”.

Numa tarde, Davi se levantou da sua cama e foi passear no terraço do palácio real. Do terraço ele viu uma mulher que tomava banho; ela era muito bonita. (2Samuel 11.2)

A tentação é um processo lento, porque o Diabo não tem pressa. Muitos de nós andamos por vista, medimos o tempo, planejamos em curto prazo se comparado com a realidade do mundo espiritual. Nós pensamos que se conseguirmos vencer as batalhas de um dia teremos vencido todas as batalhas. Mas o Diabo vive em mundo diferente do nosso e ele tem projetos para derrubar cristãos em cinco anos, em 15 anos, em 20 anos e em 30 anos.

O Diabo não tem pressa, até porque Tiago 1.14,15 nos mostra os estágios da tentação.

Mas cada um é tentado quando atraído e seduzido por seu próprio desejo. Então o desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, após se consumar, gera a morte.

Esse é o processo da caça sendo perseguida pelo caçador. Primeiro olhar, depois cobiçar, então atrair com habilidade, seduzir, e depois conceber. Por fim o nascimento e, consequentemente, a morte. Isto é um plano e suas etapas de execução. Mas este não é o plano de Deus para cada um de nós: é o plano do Diabo.

Que isto quer dizer?

Esse plano deve ser minado e desfeito a qualquer momento. Do contrário, você ou eu seremos derrotados. Considere isso: ou você desfaz o plano maligno ou o Diabo acaba com você e sua carreira, sua família e sua reputação. O Diabo está decidido e empenhado; ele não arreda o pé da própria vocação para matar, roubar e destruir.

E você, qual é a sua decisão?

Minha sugestão é que cada um de nós façamos a avaliação sobre o nível de tentação que temos enfrentado. A partir dela, encararemos a questão de frente. Não cerque-se de justificativas, de falsas proteções. O pecado nunca brinca de ser pecado, embora alguém possa brincar de ser resistente a ele.

No capítulo seguinte, vou apresentar os cinco sinais de um líder em perigo e depois os conselhos que Davi daria aos líderes de hoje.



 Parte 01
“Aprender sem pensar é tempo perdido.” Confúcio

Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. (Mateus 26.41)

Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. (Mateus 5.28)

Decorrido um ano, no tempo em que os reis costumam sair para a guerra, enviou Davi a Joabe, e seus servos, com ele, e a todo o Israel, que destruíram os filhos de Amom e sitiaram Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém. Uma tarde, levantou-se Davi do seu leito e andava passeando no terraço da casa real; daí viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mui formosa. Davi mandou perguntar quem era. Disseram-lhe: É Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de Urias, o heteu. Então, enviou Davi mensageiros que a trouxessem; ela veio, e ele se deitou com ela. Tendo-se purificado da sua imundícia, voltou para a sua casa. A mulher concebeu e mandou dizer a Davi: Estou grávida. (2Samuel 11.1-5)

De uns tempos para cá Deus tem falado ao meu coração para eu não perder o senso de radicalidade do Evangelho. Isso porque ser cristão é ser radical.

Se alguém pensa que esse papo de radicalidade é coisa para adolescentes e jovens, sugiro a você ler o Sermão da Montanha, em Mateus capítulos 5 a 7 e ver por si o que estou falando. Sabe por que eu digo que ser cristão é ser radical? Porque foi o próprio Jesus quem disse. Ser cristão é ser “estreito”: “Porque estreita é a porta e apertado o caminho…”. Você conhece a história.

Ser cristão é ser radical porque Jesus também disse:

Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, pois é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. (Mateus 5.29.30)

Ele ainda disse que somos a luz do mundo. Assim, não há outra opção; se você é luz, você é oposição às trevas.

Se, portanto, a luz que há em ti forem trevas, que grandes trevas serão! (Mateus 6.23)

A luz se opõe às trevas. Compactuar com as trevas, portanto, é afirmar não ter comunhão com a luz. E você sabe muito bem o que isso implica.

Não há como caminharem juntos dois que não estiverem de acordo:

Por acaso andarão duas pessoas juntas, se não estiverem de acordo? (Oseias 3.3)

E se você é salvo, você deve salvar os perdidos. Jesus disse a Pedro que quando se convertesse, confirmasse ou testemunhasse aos irmãos (Lucas 22.32). Pedro andava com Jesus há cerca de três anos e precisou ouvir uma advertência dessas! Isso é a radicalidade do evangelho.

A nossa maneira de falar também deve ser afetada positivamente pela radicalidade do evangelho. Fale de acordo com a verdade: Se for “sim”, diga “sim”. Se for “não”, diga “não”. O que passar disso é de procedência maligna.

Há muitas outras porções nas quais vemos a radicalidade do evangelho. E essas outras porções dão conta de cada aspecto de nossas vidas. Veja por exemplo o mandamento de Jesus: “Ame os inimigos”. Amar gente boa que mesmo assim é chata, é difícil. Há pessoas do nosso convívio que, apesar de não serem inimigas, são pessoas difíceis de lidar. A gente diz que eles são chatos; ou que são “malas”. São pessoas difíceis de convivermos com elas.

Mas Jesus não disse para amar os chatos, os implicantes ou os insuportáveis. Ele disse para amarmos os inimigos!

Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. (Mateus 5.44)

Já pensou? Constantemente nos esquecemos de orar pelos amigos, por aquelas pessoas das quais gostamos muito. Agora, imagine lembrar-se de orar pelos inimigos! E não somente lembrar, mas orar de fato, interceder por ele, colocar-se na brecha dos problemas que o nosso inimigo criou e pedir ao Senhor que resolva esses problemas, isso tudo antes de fazer isso por nós mesmos! (orar de coração pelo inimigo) Isso é bastante radical. É andar na contramão do sistema. E é assim que o evangelho mostra a sua radicalidade.

Você não deve orar pedindo: “Senhor, abençoa aquele desgraçado”. É complicado, mas Jesus disse: “Ore pelos seus inimigos”.

Vejamos mais.

Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão será passível de julgamento; quem o chamar de insensato, será réu diante do tribunal; e quem o chamar de tolo, será réu do fogo do inferno. (Mateus 5.22)

Que radicalidade. Hoje em dia poucas pessoas prestam atenção ao que falam. Há irmãos e irmãs cujo vocabulário é bastante parecido com as pessoas que não são discípulos de Jesus. Há pessoas na igreja que soltam palavrões de vez em quando, porque não estão preocupadas com o que sai de suas bocas. Mas Jesus não disse que era para afrouxar o cuidado com a fala. Aliás, ele apertou bem o parafuso neste ponto. Imagine você chamar uma pessoa de idiota, tolo, estúpido: “réu do inferno”. É radical? Sim, esse é o evangelho de Jesus.

Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar com desejo para uma mulher já cometeu adultério com ela no coração. (Mateus 5.27,28)

Muito bem. Creio que até aqui você já pode entender o que eu quero dizer por radicalidade. Evidentemente você já sabia isso e conhecia todos esses versículos, mas eu os coloquei aqui, dispostos, a título de introdução.

E por que eu fiz essa introdução? Porque o que eu vou tratar nesta reflexão tem a ver com a radicalidade do evangelho. O evangelho pode virar a cabeça de qualquer um. Se estiver desorientado, o evangelho pode alinhar, aprumar a vida de quem quer que seja. Se o camarada estiver indo para o inferno, o evangelho muda radicalmente o rumo dessa vida e o coloca no sentido do céu. As nossas igrejas estão cheias de gente com testemunhos assim, de terem sido reorientadas.

Portanto, até mesmo os nossos erros são convertidos em histórias de sucesso quando aplicamos o evangelho a nossas vidas. Mas não podemos aprender somente com os nossos erros, com as nossas próprias experiências. Também podemos aprender com os erros dos outros. Ninguém erra sozinho, não é mesmo?

Pessoas inteligentes erram para aprender. Elas tentam algo e se erram na sua execução, irão aprender com os erros e irão melhorar da próxima vez.

Mas há pessoas mais que inteligentes; elas são sábias, e essas pessoas irão tomar emprestados os erros de Davi, por exemplo, para não errar em suas próprias vidas. Pessoas sábias aprendem com os erros dos outros.

Desse modo, quero dar uma olhada nos erros que Davi cometeu, nos erros de Bate-Seba, nos erros de Urias, nos erros de Joabe e ver o que podemos aprender com eles afim de não cometer os mesmos erros e cometer os mesmos pecados.

Partiremos dos versículos apresentados no início desta Introdução, uma história bem conhecida. Ela nos dará o eixo em torno do qual iremos trabalhar. Fiz questão de colocar antes outros dois textos que emolduram a história e neles Jesus nos fala sobre qual é o alvo do cristão. Jesus fala de santidade, outro assunto com a devida radicalidade.

Espero e oro para que cada um de vocês, leitores, possa aprender com os erros desses personagens e, com isso, habituarem-se a observar os erros das pessoas que integram as histórias de nossas vidas, não com espírito pobre para criticarem, mas com coração sábio, para aprenderem.
Pr. Josué Gonçalves




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