20 de outubro de 2014

Quadrilha: médico ganhava até 300 mil por mês com abortos

O ginecologista Aloisio Soares Guimarães no momento em que foi preso

Gravações feitas com autorização da Justiça revelaram que o médico Aloísio Soares Guimarães, de 88 anos,
Quadrilha realizava até 20 abortos por dia no Rio, revelam escutas
um dos acusados de participação na Máfia do Aborto, investigada pela Operação Herodes, da Polícia Civil, chegava a ganhar, por mês, até R$ 300 mil com os procedimentos. A informação, mostrada neste domingo (19) no ‘Fantástico’, da TV Globo, foi dada pelo próprio, ao neto, numa das ligações interceptadas.

Na última terça-feira, policiais encontraram no cofre de Aloísio cerca de meio milhão de reais em dinheiro e mais cinco milhões em extratos de uma conta na Suíça. O médico, que tem várias passagens pela polícia – a primeira delas em 1962 -, está entre um dos dez médicos que tiveram prisão preventiva decretada por participação no esquema milionário da Máfia do Aborto. Aloísio já havia respondido a cinco processos, mas nunca foi condenado. Para a polícia e o Ministério Público, desta vez há provas contundentes do envolvimento dele e dos demais acusados. Segundo a investigação, o doutor era o chefe do núcleo da quadrilha, em Copacabana. No apartamento dele, no Leblon, foram encontradas máquinas de sucção que eram utilizadas para interromper a gravidez.

Outra acusada de integrar a máfia, Rosemere Aparecida Ferreira — incriminada pela morte de Jandira Cruz, de 27 anos, em agosto, durante um aborto, e presa desde setembro, admitiu que realizava os procedimentos, conforme as escutas. Ela afirmou ainda que já havia sido presa pelo mesmo tipo de crime e que pagou para ser solta.

A certeza de impunidade por parte da acusada não é à toa, já que policiais civis e militares também estão sendo acusados de envolvimento no caso. Entre eles estava Sheila da Silva Pires, policial civil e dona de uma das clínicas clandestinas. Segundo a Corregedoria da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Sheila começou recebendo propina e, depois, percebendo a lucratividade do mercado, se tornou dona da clínica. Em Guadalupe, Zona Norte do Rio, a casa do Sargento André Luis da Silva, num condomínio do Exército, servia de local para os abortos. Depoimentos de pacientes da clínica confirmam que as grávidas eram atendidas em péssimas condições de higiene.

As investigações da Operação Herodes, a maior já realizada no Brasil contra clínicas clandestinas de aborto, duraram 15 meses, com mais de 102 mil horas de gravação monitoradas e 500 horas de gravação no Rio, em São Paulo e no Espírito Santo. São 75 denunciados e 118 mandados de busca e apreensão. Dos 58 detidos, 14 são agentes públicos, como policiais militares e civis, um bombeiro e um sargento do Exército. Em um ano e três meses de investigação, os policiais descobriram uma organização criminosa de sete núcleos, montada pelas acusados. Cada um destes núcleos operava em uma região da cidade e tinha médicos, auxiliares de enfermagem, atendentes, motoristas, seguranças e agenciadores.

“Todos os sete principais grupos que atuavam na capital do Estado do Rio foram desmantelados com a Operação Herodes da Polícia Civil. Esses núcleos, longe de serem concorrentes, eram complementares e atuavam num sistema de parceria. Quando um núcleo era desmantelado pela polícia, seus integrantes remanescentes repassavam as gestantes que os procuravam para as outras clínicas de aborto em funcionamento, mediante o pagamento de comissões”, informou o delegado da Corregedoria da Polícia Civil do Rio, Felipe Bitencourt do Vale.

Quanto mais avançada a gestação, mais caro era o o serviço. Foram registradas ligações em que o preço do aborto variava entre R$ 4.500 para uma paciente com 15 semanas de gravidez até R$ 7.500, para outra com 26 semanas de gestação.

Em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, os abortos eram feitos na casa do sargento André Luis da Silva, que morava em uma casa em um condomínio do Exército. Em depoimento, mulheres disseram que eram atendidas em péssimas condições de saúde. Uma delas contou que antes de fazer o aborto, o médico, que estava de chinelos, foi até a cozinha, abriu uma cerveja e começou a beber.

Em todas as clínicas foram encontrados medicamentos de uso controlado e anestésicos: muitos com prazo de validade vencido. A polícia suspeita que esses remédios eram desviados de hospitais públicos.

Nas clínicas, as seringas e os instrumentos usados nos abortos, como bisturis e pinças, ficavam todos misturados. Em uma, aparecem escondidos dentro da máquina de lavar roupas, totalmente sem higiene.

“Com certeza foi a maior operação contra a prática do crime de aborto, não há nenhuma dúvida. Isso vai ser feito agora um inquérito para tentar recuperar esses ativos, os veículos já foram apreendidos, o dinheiro que estava com eles também. Quebra de sigilo bancário, levantamento de contas. Todo esse dinheiro, haverá uma tentativa grande de recuperação”, destaca Homero de Freitas, promotor de Justiça.

Os envolvidos na máfia do aborto vão responder por associação criminosa, tráfico de drogas, exercício ilegal da medicina e corrupção ativa e passiva. As pacientes que procuraram as clínicas também serão responsabilizadas. No total, 37 foram denunciadas pelo Ministério Público.
Fonte: O Globo

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